Agricultores financiados pelo Banco da Terra não conseguem pagar dívidas, aponta Via Campesina

23/09/2006 - 11h29

Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma pesquisa da Via Campesina aponta que grande parte dos agricultores que compraram terra com financiamento do governo federal de 1997 a 2005 não conseguiu pagar o empréstimo e, por isso, teve de abandonar o terreno. O estudo, divulgado em agosto, foi feito com 60 mil famílias em 13 estados brasileiros. O levantamento analisou os programas Cédula da Terra, Banco da Terra, Crédito Fundiário e Nossa Primeira Terra.Na avaliação da pesquisadora Maria Luísa Mendonça, uma das responsáveis pela publicação, os programas financiam compra e venda de terra em vez de apoiar a agricultura familiar. Segundo ela, os juros dos empréstimos variam de 3% a 6% ao ano, valores considerados altos e semelhantes às taxas praticadas pelo mercado. “Os trabalhadores ficam endividados e isso acaba enfraquecendo a política de reforma agrária, que é uma reivindicação histórica”, diz Mendonça.O Ministério do Desenvolvimento Agrário reconhece que o Banco da Terra oferecia taxas elevadas, entre 6% e 10% ao ano. Por isso, o programa foi extinto e os clientes, transferidos para o Crédito Fundiário, que tem juros de 3% a 6,5% ao ano.A pesquisa mostra, ainda, que 46% das famílias não conseguem produzir o suficiente para se sustentar. “Há um índice de pobreza muito alto. Quase 20% das famílias dizem que, desde que entraram no programa, em algum momento passaram fome”, conta Mendonça.Ela também explica que a maioria das terras vendidas aos agricultores tem preço acima do que deveria ser cobrado. “Os latifundiários vendem as piores terras. Com isso, os agricultores ficam sem condições de produzir”.A pesquisadora acredita que a principal falha dos programas de financiamento é delegar a gestão para os estados, onde interesses internos podem influenciar as decisões e há “currais eleitorais e situações que geram corrupção”.