Convênio que poderia melhorar saúde no Vale do Javari está parado, diz liderança

16/09/2006 - 0h56

Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O coordenador do Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), Clóvis Marubo, denunciou, em entrevista à Rádio Nacional,a precariedade do atendimento à saúde dos índios na região do Vale, noestado do Amazonas.Segundo ele, o convênio que deveria ser firmadoentre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Associação de Apoio àSaúde e Educação do Vale do Javari (Assessevaja) para reforçar oatendimento à saúde indígena na área ainda não foi oficializado e “estáparado desde maio”.

“A partir daconferência, tínhamos expectativas de melhoras das condições de saúde,mas não tem acontecido o que esperávamos”, disse Marubo, referindo-se à4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, organizada pela Funasa erealizada na cidade de Rio Quente (GO) em março deste ano.

“Asmortes que ocorrem na região podem ser atribuídas a problemas noatendimento. Há uma semana estamos pedindo uma remoção na aldeiaMaronau e a Funasa não providencia”, afirmou. Clóvis Marubo tambémdisse que a prevenção da hepatite delta (forma de hepatite que provocahemorragia generalizada e provoca a morte) tem sido deficiente.

Deacordo com o coordenador do Civaja, as dificuldades de acesso àsaldeias e o despreparo de parte das equipes de atendimento têmprovocado nos índios dúvidas quanto ao trabalho de vacinação contra ahepatite. “O povo Matís não está aceitando a vacina porque não acreditaque ela seja transportada com a necessária proteção nos barcos”,relatou.

Procurada pela reportagem,a Funasa informou, por nota, que o convênio mencionado por ClóvisMarubo prevê que a Fundação ficará responsável pelo fornecimento deinsumos e que a Assessevaja será responsável pela contratação de 115profissionais para apoio às ações de saúde.Os pregões para aaquisição dos insumos foram realizados e a Funasa “está apta a realizaro atendimento tão logo seja publicado o convênio – o que está previstapara as próximas semanas”, informa a nota.

Sobreo combate à hepatite viral, a fundação diz que há aproximadamente umano atua em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical para isolaros portadores da doença e evitar novos contágios.

Sobreas mortes registradas no primeiro semestre do ano, a Funasa afirma queforam dezessete: “quatro por doenças relacionadas ao aparelhorespiratório, três por transtornos originados no período perinatal,dois por complicações relacionadas com gravidez, parto ou puerpério,dois relacionados a doenças endocrinológicas, um por transtornos doaparelho geniturinário, um por malária, um por hepatite, um poracidente de trânsito, um por suicídio e um óbito de causa desconhecida”.

Leia a íntegra da nota divulgada pela Assessoria de Imprensa da Funasa

Arespeito de denúncias apresentadas pela Organização Não GovernamentalConselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), a Fundação Nacional deSaúde (Funasa) informa:

 

  1. Osrecursos da Secretaria de Assistência à Saúde (SAS), do Ministério daSaúde, são encaminhados diretamente para prefeituras onde existemaldeias indígenas, caso de Atalaia do Norte;

 

  1. Nocaso específico do município, a prefeitura investe o recurso nacontratação de profissionais de saúde que atuam sob a supervisão ecoordenação direta do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) doVale do Javari, ou seja, sob coordenação da Funasa;

 

  1. Alémdisso, a Funasa está reforçando as ações na região por meio de convêniocom a Associação de Apoio à Saúde e Educação do Vale do Javari(Assessevaja), que passará a atuar em parceria com a Fundação naassistência à saúde indígena na região;

 

  1. Peloconvênio, a Funasa fica responsável pelo fornecimento de insumos, e aAssessevaja pela contratação de profissionais para apoio às ações desaúde. A Fundação já realizou os pregões para aquisição dos insumos eestá apta a realizar o atendimento tão logo seja publicado o convênio –o que está previsto para as próximas semanas;

 

  1. Oconvênio prevê a contratação de 115 profissionais, sendo: 55 AgentesIndígenas de Saúde, dois Agentes Indígenas de Saneamento, cincoauxiliares de embarcação, cinco pilotos de embarcação, oito auxiliaresde epdemiologia, um estoquista, um chefe de epdemiológica, um técnicoem logística, um assistente social, um nutricionista, um psicólogo,cinco assessores indígenas, quatro auxiliares administrativos, oitoauxiliares de serviços gerais, um coordenador geral, um coordenadortécnico, um técnico contábil, um técnico de pessoal e finanças, trêsmotoristas, seis cozinheiros e dois operadores de radiofonia;

 

  1. Quantoao surto de hepatite viral, há cerca de um ano a Funasa tem atuado emconjunto com o Instituto de Medicina Tropical, no sentido de isolar osportadores como de forma a evitar novos contágios;

 

  1. Noque diz respeito à malária, a Funasa implementou diversas ações decombate ao mosquito transmissor, realizando borrifações na área.Atualmente, a doença está sob controle na região;

 

  1. Sobreóbitos na região do Vale do Javari, no primeiro semestre deste ano,foram registrados 17 óbitos na área, assim distribuídos: quatro pordoenças relacionadas ao aparelho respiratório, três por transtornosoriginados no período perinatal, dois por complicações relacionadas comgravidez, parto ou puerpério, dois relacionados a doençasendocrinológicas, um por transtornos do aparelho geniturinário, um pormalária, um por hepatite, um por acidente de trânsito, um por suicídioe um óbito de causa desconhecida.