Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O que surpreende atualmentedepois do seqüestro do repórter da TV Globo Guilherme Portanova e doassistente de câmera Alexandre Calado é o grau de articulação entre o crimeorganizado nas prisões e o mundo externo. “A capacidade que tem hoje o crimeorganizado de mobilizar pessoas, determinar ordens e elas serem cumpridas. De fato, a situação tendeu ase agravar e em uma escala imprevisível”.A avaliação é do professorSérgio Adorno, do Núcleo de Estudo da Violência da Universidade de São Paulo(USP). “Nós que pesquisamos a área de Segurança Pública sabíamos que o crimeorganizado estava presente nas prisões, sabíamos que esta era uma situaçãobastante grave. A rebelião de 2001, em que 29 presídios simultaneamente serebelaram já sugeria grau de organização bastante acentuado”, disse ementrevista ao Programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.Para o professor, a situaçãoestá se agravando em São Paulo com a atuação do Primeiro Comando da Capital emataques no estado. Os fatos cada vez mais freqüentes estão dando ao cidadãocomum a sensação de que a segurança pública está fora de controle. Ele considerouo momento “muito delicado”, porque o país está em campanha eleitoral e o temamobiliza a atenção dos eleitores, sobretudo, a fala dos candidatos.Adorno defendeu que nestecaso as questões políticas têm que ser deixadas de lado. “O que está em jogonão é um problema de governo propriamente, mas um problema de estado, desegurança do cidadão. É desejável, neste momento, que o governo estadual e o federalsentem e elaborem programas conjuntos, independentemente das suas diferençaspolítico-partidárias, de suas diferenças de campanha. Este é um momento em queos interesses da população e do cidadão têm que estar acima de qualquer querelapartidária”,O professor considera “urgente”um forte investimento em serviço de inteligência, para saber a extensão doenraizamento do crime organizado e tentar tomar medidas que possam serefetivamente eficazes.“O que está se mostrando éque tirar os delinqüentes das ruas e colocá-los dentro das grades não pareceser solução suficiente, porque eles se organizam muito bem e as ordens sãocumpridas com muita rapidez. É uma solução muito tradicional, e que não pareceeficiente. Isso não quer dizer que as pessoas não devam ser investigadas eaqueles que tenham responsabilidade não devam ser presos e aguardaremjulgamento presos”, considerou. Segundo Adorno, as operaçõesde inteligência podem apurar como grupos do crime estão organizados e comocircula o dinheiro, que financia as atividades deles. “Como é que estefinanciamento está funcionando? É preciso saber como o dinheiro está circulandoe tentar romper este circuito o mais rápido possível porque cada dia que passanós estamos ficando mais acuados”, afirmou.