Brasil tem terceiro maior índice de acidentes com transporte de cargas na América Latina, revela pesquisa

14/08/2006 - 15h06

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma regulamentação mais rigorosa, que restrinja a entrada deprofissionais no mercado de transporte de cargas, é condiçãofundamental para reduzir o número de acidentes com morte nas rodoviasbrasileiras. A afirmação foi feita hoje (14) pelo diretor do Centro deEstudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),Paulo Fleury. De acordo com o professor, também é preciso aumentar afiscalização nas estradas. Fleury apresentou um estudo segundoo qual, a cada ano, são registrados 200 mil acidentes e 34 mil mortesnas estradas brasileiras. O número é maior que o de qualquer país daEuropa e o terceiro mais alto da América Latina, diz a pesquisa. Osprejuízos com perda de carga motivados por acidentes somam, anualmente,R$ 2 bilhões e superam em quase três vezes as despesas por roubos. Seforem considerados os prejuízos à vida, ao patrimônio e ao veículo, asestimativas de perda podem alcançar até R$ 9 milhões, acrescenta oestudo.“O sistema rodoviário no Brasil, atualmente, não temnenhuma barreira de entrada. Qualquer pessoa pode tirar uma carteiraespecializada, comprar um veículo com 30 anos de uso e virar umprestador de serviço de transporte. Não interessa a experiência queteve ou o treinamento por que passou. Isso aumenta a oferta detransportadores e o preço do serviço cai. Para sobreviver, ocaminhoneiro reduz a preocupação com a manutenção do veículo, aumenta onúmero de horas dirigidas e sobrecarrega o caminhão com volume dematerial”, afirmou Fleury. Ele explicou que aregulamentação do setor deveria exigir treinamento dos motoristas, umresponsável técnico e garantia de manutenção do veículo, além deincentivar a renovação constante da frota, através do aumento dataxação de acordo com o envelhecimento dos veículos. “Emtodos os países, à medida que o veículo vai ficando mais velho, vaiaumentando a taxação sobre ele. Os veículos mais novos têm tecnologiasque reduzem a emissão de poluição e contam com equipamentos desegurança mais modernos, por exemplo. Aqui no Brasil é o contrário,quanto mais velha a frota, menos impostos se paga”, reclamou.  Segundoo diretor da Associação Brasileira de Caminhoneiros Autônomos (Abicam),José da Fonseca Lopes, a idade média da frota de caminhões no país é de18 anos. Ele também acredita que a melhoria das condições de trabalhodos caminhoneiros pode contribuir para a redução do número de acidentes. “Onosso mercado é predatório. Precisamos trabalhar em média 19 horas pordia, muitas vezes, com sobrecarga no caminhão”, disse. Lopesdestacou ainda que a falta de conservação das estradas chega aencarecer em 30% o valor do frete rodoviário. “Quando o caminhãoquebra, o profissional acaba utilizando um produto de segunda linha,comprado às vezes no ferro velho”.