Pedro Biondi
Enviado especial
Marabá (Pará) - A apuração dos indícios aponta um fazendeiro de Ourilândia, município do sudeste paraense, como mandante do desmatamento e da queima de 60 alqueires constatados na primeira batida da Operação Kayapó no território desses índios na região. Talvez, no entanto, não seja fácil comprovar isso e punir o responsável, indicam os relatos do ex-administrador da Funai em Marabá Eimar Araújo. “O invasor compra a terra do grileiro [aquele que comercializa terras que não lhe pertencem], contrata o peão lá fora e coloca para desmatar. É difícil a gente encontrar as pessoas que compraram a área”, contou o ex-administrador regional, um dos coordenadores da operação, à reportagem da Radiobrás. “Geralmente os fazendeiros mandam o peão derrubar [a mata] e ficam em Ourilândia, Tucumã [também na região], Goiânia. Até gente na Bahia tem terra dentro da área indígena”, concordou o chefe do Núcleo de Apoio da Funai em Tucumã, Odenildo Coelho da Silva. Segundo Silva, reincidências são comuns: “O índio põe o invasor para fora e ele volta, alegando que não sabia que a área é dos Kayapó.” A operação reúne Funai, Polícia Federal (PF) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para combater a grilagem de terras, a extração ilegal de madeira e o garimpo na Terra Indígena Kayapó. A multa para a devastação dos 60 alqueires foi calculada em R$ 450 mil pelo chefe da Divisão Técnica do Ibama em Marabá (PA), Gudmar Regino Dias. Geralmente, as áreas desmatadas e incendiadas pelos invasores se destinam a virar pasto, num ciclo que segue o calendário das estações. “O desmatamento se dá de julho a setembro”, explicou Eimar Araújo, da Funai. “Em outubro-novembro, época das primeiras chuvas, os fazendeiros jogam, de avião, as sementes. Seis meses depois, a área estará pronta para gado.” Muitas vezes, a punição do responsável precisa esperar a conclusão o ciclo. “A gente pega os pontos GPS [de localização via satélite] da área, fotografa para constatar o dano, espera o infrator formar a pastagem e se instalar para, então, autuá-lo”, narrou Gudmar Regino Dias, do Ibama.