Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na última parte da entrevista, a embaixadora de Israel, Tzipora Rimon, explica a relação do país com as organizações consideradas terroristas do Oriente Médio e com os palestinos. Diz também que leva a sério a ameaça do Hizbollah de atacar Tel Aviv, mas avisa que o povo israelense está preparado e sabe se proteger.Agência Brasil: Com o aumento das animosidades, Israel teme uma espécie de novo Holocausto, desta vez partindo do povo árabe?Tzipora Rimon: Eu gostaria de enfatizar aqui muito claramente porque muitos brasileiros usam esse elemento do Holocausto, que foi uma idéia para eliminar o povo judeu da Terra. Mas hoje, não. Israel lida com muitas organizações terroristas, como Hizbollah e Hamas, mas não falamos de “povo árabe”. Esta comparação é muito ruim, é muito diferente.ABr: Tendo em vista a ligação, que a senhora mesma mencionou, do Hizbollah com o Irã e a Síria, há possibilidade de o conflito se estender para estes países?Rimon: Israel tem esperança que não. Mas há muitas organizações terroristas no mundo, especialmente na região, e a Síria tem que fazer alguma coisa a respeito. Queremos a paz com a Síria, o Líbano, os palestinos. A retirada da Faixa de Gaza mostrou isso. O problema é que assumiu o poder [na Palestina] o Hamas, que é uma organização terrorista e não reconhece Israel, não reconhece os acordos de paz que Israel já assinou e continua a apoiar o terrorismo.ABr: Mas Israel também não reconhece o Hamas como governo legítimo.Rimon: Mas é uma organização terrorista. Não é uma questão de reconhecimento. Nós já fizemos acordos de paz através de lideranças palestinas, como em 1993 [Acordos de Oslo], e elaboramos um cronograma para chegar a um acordo final. Mas por causa do terrorismo, paramos esse processo. Temos esperança que o Hamas pare o terrorismo e queremos ter contatos com o presidente da Autoridade Palestina, o Mahmoud Abbas. Ele é contra o terrorismo e reconhece Israel.ABr: Não há um paradoxo forte nessa situação? O Hamas é considerado terrorista mas foi eleito democraticamente, da forma como os Estados Unidos dizem querer implantar na região.Rimon: É um paradoxo, mas analise: a maior parte do povo palestino não é do Hamas. Apoiaram o Hamas na eleição como forma de protesto contra o governo anterior. Mas nem todos os palestinos são terroristas. Então foi uma situação esquisita, porque uma organização terrorista usou um aparato democrático para ganhar as eleições.ABr: Como está a situação dos civis israelenses de regiões atingidas pelos mísseis do Hizbollah?Rimon: O Estado de Israel tem 58 anos e já tivemos algumas guerras. Então a população está muito preparada para isso, com abrigos contra bomba em casa. Mas nem todos os prédios têm e também não é nada agradável ficar nessa situação, então muitos cidadãos do norte de Israel foram para o sul e o centro. A população está se virando, mas essa situação não pode se prolongar por muito tempo. Queremos viver uma vida normal.ABr: Como a senhora considera que a mídia está retratando a guerra? O governo israelense nos mandou uma lista de contatos de brasileiros que vivem em Israel. É um sinal de que vocês consideram que os danos do lado israelense não estão sendo mostrados?Rimon: Mostram mais o lado do Líbano. Mostram várias vezes um mesmo prédio em chamas em Beirute, e parece que a cidade inteira está destruída. Nós tivemos vítimas também, mas não usamos os corpos para mostrar o que aconteceu, por respeito às famílias.ABr: A respeito das armas usadas por Israel, um brasileiro do Vale do Bekaa me disse que presenciou um bombardeio com bombas de fósforo, que são proibidas...Rimon: Israel só usa armas standard, de acordo com os padrões internacionais.ABr: O Conselho de Segurança da ONU está negociando os termos de um cessar-fogo (uma proposta foi recusada hoje pelo governo libanês), mas Israel continua chamando militares para aumentar sua presença em território libanês. Até onde Israel vai?Rimon: Não queremos afetar a população civil, então precisamos de um efetivo maior para podermos ir de casa em casa, já que o Hizbollah estão infiltrado entre a população civil. Mas o ponto importante é que não estamos entrando para ficar. Quando a força internacional estiver pronta para ocupar o lugar do Hizbollah, Israel vai sair.ABr: O líder do Hizbollah ameaçou atacar Tel Aviv. É só um jogo retórico ou isso pode acontecer?Rimon: Um míssil pode absolutamente alcançar Tel Aviv, e eles já mostraram outras vezes que cumprem suas ameaças. É uma escalada muito séria. [O jornal israelense Haaretz informou anteontem que um funcionário do governo iraniano admitiu que Teerã forneceu ao Hizbollah mísseis com alcance estimado em 210 quilômetros, o suficiente para atingir Tel Aviv. É a primeira vez que o fornecimento é admitido por um iraniano, segundo o diário\