Norma Nery
Repórter da Agência Brasil
Rio - Depois de seis anos vivendo acampadas, 30 famílias de trabalhadores rurais receberam hoje (1º) os títulos do novo assentamento Oziel Alves, criado na Fazenda Nossa Senhora das Dores, parte da falida usina açucareira de Cambayba, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Mais 150 famílias continuam acampadas na área, desde 2000, à espera da desapropriação de mais cinco fazendas que integram o complexo da usina. A área de 275,6 hectares foi assumida pela União como pagamento de dívidas da empresa com a Fazenda Nacional, orçada em mais de R$ 100 milhões e, posteriormente, destinada à reforma agrária.O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Rolf Hackbart, e lideranças estaduais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) participaram do ato de criação do assentamento. O coordenador nacional do MST, Léo Lima, disse que o decreto de desapropriação da Cambayba data de 1998, mas vinha se arrastando na Justiça. Segundo ele, a criação do assentamento é uma vitória de luta e resistência dos trabalhadores rurais e uma grande conquista da sociedade brasileira. “A usina na região é o símbolo do agronegócio. A história da Cambayba, no seu tempo de funcionamento, é uma história de extrema violência com os trabalhadores. A usina deve para a União R$ 170 milhões. Mais do que uma dívida econômica, é uma dívida social, porque esse dinheiro deveria estar na educação, na saúde, na reforma agrária e na geração de empregos”, afirmou Lima.Entre as 30 famílias assentadas está a de Nilzete de Araújo Viana Barbosa, de 45 anos, mãe de três filhos, que vive da produção orgânica de frutas e legumes no local, desde o início do acampamento, e espera mudar para melhor. “Muda tudo: a estrutura, o nível de vida, dinheiro e crédito, que vai facilitar a vida da pessoa para trabalhar na terra. Nossas casas serão construídas. Por enquanto, a gente não tem casa ainda, mas vai sair agora o dinheiro. Se Deus quiser, a gente vai ter a casa própria”, disse Nilzete.O nome do assentamento – Oziel Alves - foi escolhido para homenagear um militante do MST que morreu aos 17 anos, após ser preso e torturado durante o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. As famílias assentadas receberão créditos de fomento, para a infra-estrutura do local, de habitação e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para expandir a produção. No norte fluminense, existem mais 11 acampamentos que reúnem mais de 800 famílias à espera do andamento dos processos de desapropriação de terras.