Professor diz que economia está favorável para redução da taxa básica de juros

18/07/2006 - 18h12

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A situação da economia brasileira é das mais tranqüilas, embora não tão brilhante como gostaríamos, mas é o suficiente para acreditar que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central dará continuidade ao processo de flexibilização da taxa básica de juros (Selic), disse o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli.Embora os analistas de mercado e de instituições financeiras, consultados todas as sextas-feiras pelo BC, apostem na redução da Selic dos atuais 15,25% ao ano para 14,75% ao ano, Piscitelli disse hoje (18) que não se surpreenderia se o corte, a ser anunciado amanhã (19), for de apenas 0,25 ponto percentual, em razão da “posição de cautela” que o colegiado de diretores do BC tem adotado até aqui.Roberto Piscitelli elogia a condução cautelosa do processo de redução da taxa básica de juros, iniciado em setembro do ano passado, e que já reduziu a Selic em 4,5 pontos percentuais de lá para cá, tirando o Brasil da cabeça do “ranking” dos juros mundiais - o posto voltou a ser ocupado pela Turquia -, e diz que ainda há muito por ser feito nessa área. “Só que, a partir de agora, com menor intensidade”, diz.Ele afirma que “o pessoal do Copom tem a cabeça feita”, mas lembra que as decisões daquele colegiado só surpreendem quando aumentam os juros. De modo geral, acrescentou, as reduções têm sido em linha com as projeções contidas na pesquisa semanal, traduzida no boletim Focus. Segundo o professor da UnB, as apostas dos economistas da iniciativa privada “têm ido sempre na ferida”.Os juros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F) mantinham trajetória de queda, no início da tarde de hoje, e os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) indicavam juros de 14,79% para agosto e de 14,45% em janeiro de 2007. O risco-Brasil também caía de 251 pontos, ontem, para 242 pontos acima dos títulos do tesouro norte-americano, numa demonstração de confiança dos investidores nos fundamentos da economia brasileira.São indicações, de acordo com Piscitelli, de que os economistas da iniciativa privada têm razão quando apontam que as condições são favoráveis à redução dos juros. Ele lembra, contudo, que a taxa de juros está chegando a um piso histórico, o que diminui, a partir de agora, as possibilidades de calibragem da taxa para baixo. Se o Copom efetivar a redução esperada para 14,75%, teremos a menor taxa Selic praticada pelo BC desde 1975.Nem sempre a flexibilização da taxa básica de juros é repassada integralmente para os consumidores. Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) constatou que ao contrário da redução de 0,50 ponto percentual, na última reunião do Copom, em 31 de maio, a taxa média dos juros bancários para a pessoa física aumentou 0,53% no mês de junho. O CDC-banco subiu para 49,71% ao ano (+1,18%), o cheque especial foi para 154,91% ao ano (+0,50%), o crédito pessoal evolui para 92,51% (+0,36%) e o empréstimo das financeiras cobra juros de 274,43% ao ano, ou estratosféricos 11,63% ao mês.Os números foram divulgados pelo vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira. Ele disse que enquanto todos esperavam redução geral dos juros, os bancos fizeram o contrário, alegando aumento da inadimplência nas operações com pessoas físicas – de 6,7% em dezembro/2005 para 7,6% em maio – e incertezas no mercado internacional, por conta do aumento dos juros nos Estados Unidos, que influenciaram os juros futuros nos mercados emergentes.Alegações que “não justificam tudo”, segundo ele, considerando-se que a taxa média dos juros cobrados pelo comércio cresceu de 104,66% em maio para 106,06% no mês seguinte, com aumento de 0,98%, e voltou ao patamar de setembro de 2003. Essa evolução é menos convincente ainda, segundo ele, quando se considera que o aumento dos juros, determinado pelo Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) foi de apenas 0,25 ponto percentual, e já estava precificado (embutido nos preços) pelo mercado.