Márcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil
Recife - Cinco argentinos, oito libaneses e 85 brasileiros que fugiram do Líbano em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) já passaram por Recife e chegam ainda hoje (18) a São Paulo. Entre os passageiros estão mulheres, crianças e idosos descendentes e parentes de libaneses, muitos dos quais estavam em férias no Oriente Médio quando teve início o conflito. Eles pousaram em Recife às 12h40 e permaneceram no solo por volta de uma hora, para abastecimento da aeronave. Todos seguiram viagem até São Paulo.Enquanto a aeronave era abastecida, alguns passageiros aguardaram num dos portões de embarque, onde conversaram com a imprensa. O comerciante de Santa Catarina Zouhair Haidar, que voltou com a esposa e dois filhos, afirmou que essa foi a pior experiência que teve. "O bombardeio aconteceu a 500 metros do meu apartamento, que era próximo ao aeroporto. Estourou o vidro, houve muita poeira. Os viadutos foram os primeiros alvos", disse. "Quando começou o bombardeio, fomos para as montanhas, a 10 quilômetros de onde eu morava. Os preços de tudo dobraram, ficaram uma loucura, começou a faltar pão, alimentos, tudo".A comerciante Joheina Mankara, que é casada com um libanês e foi passar férias no Líbano com duas filhas adolescentes, Tamara e Aline, contou que viveu momentos de tensão e pânico. “Quando começou o bombardeio eu estava arrumando as malas para vir embora. Nossa família tomou um susto. Recebi um telefonema de funcionários do Itamaraty dizendo que precisávamos viajar o mais rápido possível para Beirute, pegar um ônibus até a Síria e depois ir para a Turquia, onde um avião da FAB traria passageiros de volta para casa”.O comandante da aeronave da FAB, Salvini Krieger, disse que "esse vôo serve para mostrar a capacidade da Força Aérea de operar em qualquer parte do mundo. É um vôo de muito orgulho para nós".A região passa por uma escalada de violência desde que Israel, sob pretexto de se defender de ações do movimento libanês Hizbollah, iniciou ataques ao sul do Líbano e à capital, Beirute. O Hizbollah também tem lançado mísseis contra Israel. O número de civis mortos já passa de 200, segundo agências internacionais, a grande maioria em território libanês - inclusive quatro brasileiros. "Quando eles pararem de lançar mísseis e libertarem os soldados seqüestrados, Israel terminará as ações no Líbano", disse a embaixadora israelense no Brasil, Tzipora Riomon.O governo brasileiro divulgou nota lamentando a incursão de Israel no sul do Líbano e o ataque a instalações locais. Na nota, “reitera sua oposição a atos desproporcionais de represália que possam contribuir para deteriorar ainda mais o já delicado quadro político e humanitário regional".Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Argemiro Procópio, o envolvimento de outras partes no conflito poderia até mesmo trazer conseqüencias para o Brasil. "Digamos que o Irã entre no conflito, para onde vai o preço do petróleo?", questiona. De acordo com a agência Lusa, o exército israelense disse que mísseis lançados pelo Hizbollah seriam de fabricação iraniana.