Rio, 28/5/2006 (Agência Brasil - ABr) - Cerca de 90% dos partos da rede privada nas regiões metropolitanas brasileiras são feitos através de cesárea, segundo a Rede de Humanização do Parto e Nascimento (Rehuna). A Organização Mundial de Saúde recomenda que este tipo de intervenção fique em torno de 15% do total. De acordo com a rede, o Brasil é o país com a segunda maior taxa de cirurgias cesarianas do mundo.
A secretária executiva da rede, Heloísa Lessa, disse que essa elevada porcentagem é decorrente da ambição e comodidade de muitos médicos. "A cesárea é mais rentável e rápida. Enquanto ela demora uma hora, o parto normal pode chegar a dez horas", justificou, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ela, a mortalidade entre mulheres que fazem cirurgias cesarianas é cinco vezes maior que as submetidas ao parto normal, principalmente devido a complicações cirúrgicas. Os riscos para o recém-nascido também são grandes. "Tira-se o bebê numa data marcada, quando ele pode ainda não estar ainda preparado para nascer. Isso aumenta o número de internações em unidades de tratamento intensivo e incubadoras."
A analista de sistemas Ingrid Lotfi, de 28 anos, fundou o movimento Parto do Princípio, que organiza campanhas, no Rio de Janeiro, para informar as mulheres das vantagens do parto normal. Segundo ela, muitas gestantes optam pela cesárea por serem enganadas por seus próprios médicos.
"Eu mesma fui vítima dos interesses do meu obstetra particular, há três anos", contou Lofti. "Ele me disse que só era possível a cesariana, e eu acreditei, porque a gente não acha que o nosso médico vai nos enganar. Depois eu descobri que o parto normal teria sido a melhor opção. E a secretaria acabou contando que esse médico só fazia cesárea."
Anualmente 2 mil mulheres e 38 mil recém-nascidos morrem por ano devido a complicações na gravidez, no parto e pós-parto ou no aborto, de acordo com o Ministério da Saúde. A meta do ministério é reduzir esse número em 15% até o final deste ano.