Priscilla Mazenotti
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) mostra que os reponsáveis por libertar trabalhadores escravos no país enfrentam sentimentos de "sofrimento" pela convivência com as situação análogas à escravidão e também de "prazer" pela libertação desses trabalhadores. O autor da pesquisa foi o psicólogo Jaques Gomes de Jesus, que elaborou uma dissertação de mestrado em Psicologia Social e do Trabalho, defendida em dezembro de 2005 no Instituto de Psicologia da UnB.
"Eles percebem a pessoa escravizada como insatisfeita, desassistida de qualquer apoio, seja de estado, de uma rede social, de família. Porém, vêem esses trabalhadores como pessoas fortes no sentido que remete à idéia de que o sertanejo é forte no seu contexto de sertanejo", descreve Jaques Gomes de Jesus, autor da pesquisa.
A pesquisa busca compreender a percepção que os libertadores têm com relação aos libertados por trabalhos escravos. Segundo Jaques, há uma identificação entre libertador e libertado, especialmente no sexo do trabalhador. "Mulheres e pessoas negras libertadoras têm uma percepção do liberto mais próxima, mais pessoal. Provavelmente porque eles, de forma geral, são os grandes lutadores contra a exploração. Pessoas negras foram vítimas da escravidão na história do Brasil", explicou.
O pesquisador ressaltou que o próprio escravizado é o instrumento para a sua libertação porque é ele, depois de uma fuga, por exemplo, que faz a denúncia de trabalho escravo em determinada fazenda. "O próprio libertado é a base da sua libertação. Por mais que não se percebam os escravizados, os explorados que têm o maior poder para se libertar, eles são os grandes libertadores", destacou.
A pesquisa mostra, ainda, que 20% dos trabalhadores que vivem em condições análogas às de escravo voltam a ser escravizados depois de libertos. Para ampliar o trabalho de erradicação do trabalho escravo no país, Jaques explica que é preciso trabalhar em três frentes. É preciso a intervenção do Estado nos lugares de maior incidência de trabalhadores escravizados – e a pesquisa mostra que o Maranhão é o maior exportador de trabalhadores escravos e o Pará o maior importador –; uma mudança cultural de novas formas de trabalho e a mudança da economia; e também uma mudança cultural.
"Acredito que, quanto mais as pessoas tiverem a oportunidade de se desenvolver educacionalmente e tiverem acesso a recursos tecnológicos para utilizar no seu trabalho, mais a gente estará se afastando desse fenômeno da escravidão", disse.