No Brasil, gasto público elevado é fator que impede crescimento, dizem economistas

15/03/2006 - 17h03

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O gasto público elevado foi apontado hoje (15) como um dos principais fatores que impedem o crescimento econômico brasileiro por especialistas que participaram do seminário Caminhos do Crescimento, promovido pela Câmara dos Deputados. Segundo o professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) José Márcio Camargo, as despesas públicas representam cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas produzidas no país.

"É o maior nível de todos os países emergentes do mundo", afirmou. No México, por exemplo, que também tem resultado acima dos padrões internacionais, Camargo disse que o gasto público é metade do brasileiro, cerca de 20% do PIB.

Uma das conseqüências desse fenômeno, na avaliação do economista, é que o crescimento econômico não consegue acompanhar a demanda do mercado. "Todas as vezes que o consumo aumenta um pouquinho, a oferta não consegue acompanhar. Quando o setor privado começa a querer crescer, não adianta, não tem recurso."

Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luciano Coutinho, a redução dos gastos públicos contribuirá para a redução dos juros a um nível "civilizado". "É possível reduzir a taxa de juros de maneira rápida e profunda no momento em que a sociedade, os investidores, a classe empresarial estiver convencida de que as contas públicas brasileiras estão colocadas numa trajetória saudável", disse.

Coutinho, sócio da LCA Consultores, que tem entre seus clientes a Companhia Vale do Rio Doce e a AmBev, afirmou ainda que é preciso melhorar substancialmente a gestão do sistema previdenciário. "Não adianta só fazer recadastramentos periódicos, porque o sistema previdenciário brasileiro é altamente vulnerável a fraudes", criticou.

Segundo José Márcio Camargo, o gasto com pagamento de aposentadorias e pensões representa 13% do PIB brasileiro. Nos países com o mesmo percentual de idosos que o Brasil, a média é de 6%.

Camargo acrescentou que a economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo - ou seja, uma das que tem a menor relação entre o comércio externo e o tamanho total da economia. "Há 25 anos atrás, o Brasil era a quinta economia mais fechada do mundo. Hoje, o Brasil continua a quinta economia mais fechada do mundo apesar de a relação entre comércio [externo] e o tamanho do PIB ter passado de 12% para 30% nos últimos dez anos", disse. No caso da China, segundo o economista, a relação comércio externo/PIB é de 75%.