Aloisio Milani
Enviado especial
Porto Príncipe (Haiti) – Um país do tamanho do estado de Alagoas, que fez história ao se tornar a primeira república negra do mundo, em um processo de independência da França liderado por escravos, mas que hoje tem uma realidade em que a democracia sempre foi mais uma exceção do que regra para seu povo. Esse é o retrato do Haiti, que começa a acompanhar a apuração dos votos das primeiras eleições após a queda do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em 2004.
Mais de três milhões de pessoas estavam cadastradas para votar no pleito ocorrido ontem (7). Segundo o Conselho Eleitoral Provisório, compareceram às urnas entre 75% e 80% dos haitianos. Hoje (8), os representantes do conselho devem informar como será feita a divulgação dos resultados e o índice exato de participação dos eleitores. A contagem dos votos começou após o fechamento das sessões eleitorais e a estimativa é que a apuração seja concluída até a sexta-feira (10).
Após 202 anos da proclamação da independência do Haiti, a história de sua república negra pode ser contada por fatos marcantes, como a rebelião de escravos que libertou a ex-colônia francesa, mas também pela instabilidade política, recortada por ditaduras sangrentas e sucessivas interferências externas.
"A democracia é exceção no Haiti. A regra é a ditadura. E a questão que se coloca para nós, observando com simpatia a situação do povo haitiano, é se é possível implantar essa democracia numa sociedade sem experiência democrática. Esse é mais um esforço que está sendo feito agora com as eleições", explica o professor brasileiro da Universidade Federal de Santa Maria, Ricardo Seitenfus, que acompanha as eleições do país como observador internacional.
Na avaliação dele, as eleições gerais são fundamentais para recuperar a ordem constitucional no país. "É um divisor de águas, mas não é tudo. A partir dessa situação de legalidade e legitimidade, o Haiti tem que enfrentar seus verdadeiros problemas, que não são políticos e socioeconômicos, como desestruturação do Estado, o abandono completo da infra-estrutura, a miséria absoluta, os índices inaceitáveis de higiene, educação e saúde", observa.
O embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro, também destaca a importância dos investimentos sociais e econômicos de forma conjunta às eleições para evitar que a instabilidade política continue. "As eleições são efetivamente o início de um governo que se vê como de transição. Para uma normalidade democrática, mas também para um país menos subdesenvolvido", diz. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Haiti tem o pior índice de desenvolvimento humano das Américas.
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