Aloisio Milani
Enviado especial
Porto Príncipe (Haiti) – O observador internacional convidado pelo Itamaraty para fazer uma radiografia da articulação político-partidária e da preparação das eleições no Haiti e professor da Universidade Federal de Santa Maria, Ricardo Seitenfus, avalia que a história recente do país mostra que os regimes autoritários são a regra no Haiti. A democracia tem sido a exceção. Em 202 anos de república, apenas um presidente eleito terminou o mandato e transmitiu o cargo para seu sucessor.
"O Haiti é um país que não tem experiência democrática. A democracia é algo inexistente no país. De fato, tivemos a primeira eleição presidencial em 1957, mas não havia título de eleitor e as pessoas votavam em pedaços de papel", relata. Assim como nos Estados Unidos e na França, o voto no Haiti não é obrigatório, o que também dava margem para interferências políticas.
Em 1986, após o longo período ditatorial da família Duvallier - primeiro com o presidente eleito François Duvallier, conhecido como Papa Doc, e depois com seu filho, Jean-François Duvallier, chamado de Baby Doc - uma série de manifestações ajudou a derrubar o regime e a organizar eleições. Já era então um movimento influenciado pelo líder religioso Jean Bertrand Aristide, adepto da teologia da libertação. Aristide se elegeu presidente, foi derrubado por um golpe militar e voltou com apoio de uma missão militar dos Estados Unidos.
Segundo o professor brasileiro, o período após a ditadura de Baby Doc foi "extramente doloroso" para os haitianos. "Essa sociedade tão fechada e contraditória e tão pouco habituada ao diálogo tentava implantar algum tipo de democracia representativa. E isso foi feito de maneira caótica", explica. Nos últimos 20 anos, o Haiti teve seis diferentes presidentes, sendo que Aristide teve dois mandatos interrompidos.
Com apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas (ONU), o Haiti realizou ontem (7) eleições gerais para presidente, senadores e deputados.