Rio, 6/2/2006 (Agência Brasil - ABr) - Líderes comunitários, integrantes das Polícias Militar e Civil e do Poder Judiciário reuniram-se hoje (6), no Fórum Regional da Barra da Tijuca, para a primeira aula da segunda turma do curso Meios de Resolução Pacífica de Conflitos no Rio de Janeiro. O objetivo do curso é melhorar as relações diárias entre os órgãos de segurança pública e a população e encontrar solução para pequenos conflitos que levem a situações de violência.
O curso é destinado às comunidades próximas da área onde serão realizados os Jogos Pan-Americanos de 2007. Antes da aula foram entregues os certificados às 120 pessoas que participaram da primeira turma. Maria Célia dos Santos recebeu o certificado do secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa.
Maria Célia, fundadora da organização não-governamental (ONG) Instituto de Desenvolvimento Social Fênix, que incentiva o desenvolvimento social em Anchieta, na zona norte do Rio, destacou a importância de aprender estratégias técnicas de como melhor resolver conflitos que costumam ocorrer no dia-a-dia.
"Brigas entre vizinhos, que em algumas situações geram crimes, disputas em áreas de construção dentro da comunidade, pequenos desentendimentos entre jovens, violência contra mulheres. Às vezes, não há quem possa mediar para amenizar a situação. Preparar a comunidade para que ela mesma possa resolver os pequenos problemas. Isso foi muito importante", disse.
Segundo Maria Célia, é importante também a integração entre os representantes da polícia, das comunidades e do Poder Judiciário na discussão de questões comuns para evitar os conflitos locais. "Todo mundo ficou junto e falando a mesma língua, até porque se tem a mesma necessidade. Foi uma coisa que veio ao encontro de toda aquela angústia que o pessoal das comunidades tem para resolver um mal maior", acrescentou.
Para quem mora na Rocinha, área de vários conflitos entre grupos rivais de traficantes e de intervenções policiais, o curso serviu como forma de incentivar a participação da população. Andréa Oliveira, líder da comunidade local, lembrou que, em abril deste ano, completam-se dois anos do primeiro grande conflito entre traficantes que gerou pânico entre os moradores. "É fundamental esse trabalho prévio de conciliação porque pode-se reduzir os problemas que a gente vem tendo, até por essa falta de diálogo. Quem vê a Rocinha de fora não tem noção da diversidade de problemas que a gente encontra dentro da Rocinha, e não só de violência", disse.
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Edson Vidigal que estava presente destacou que esse trabalho integrado vai reduzir a morosidade que os processos às vezes enfrentam na Justiça, e a população poderá acompanhar a solução do caso. "Estamos alinhados com nessa luta, combatendo a morosidade da Justiça, que precisa ser mais ágil e chegar mais rápido às populações mais desassistidas", completou.
O secretário Luiz Fernando Corrêa ressaltou que o curso permite mudança de comportamento da população e dos entes públicos. "Nós temos uma cultura de tratar segurança pública como uma questão unicamente policial e repressiva. Precisamos continuar reprimindo a criminalidade violenta com qualidade, mas precisamos trabalhar a convivência e a prevenção nas comunidades envolvendo o cidadão. Estamos investindo nas lideranças comunitárias para que elas tenham capacidade de resolver pacificamente muitos conflitos que acabam na delegacia. Temos que evitar que chegue neste limite extremo, que aí sim tem que entrar o aspecto repressivo do estado", afirmou.
O curso é coordenado pelo Centro Regional de Treinamento em Segurança Pública, em parceria com a Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, o governo estadual e a prefeitura do Rio. Na mesma cerimônia, foi inaugurado o Espaço de Mediação em Segurança Cidadã, uma sala que vai funcionar diariamente no Fórum Regional da Barra para atender a casos de conflito de solução rápida.