Especial 11 – Na BR-101 Sul, a vida dos homens e das bananas de Terra de Areia

30/01/2006 - 20h03

Paulo Machado e Eliane Gonçalves
Enviados especiais

Terra de Areia (RS) - Quem trafega pela rodovia em duplicação BR-101 Sul, entra no município de Terra de Areia (RS) e tem à sua direita uma montanha coberta de plantações de banana, um dos principais produtos da região, e à esquerda a Lagoa de Itapeva, rica em pescado, outro produto que garante a sobrevivência de centenas de pescadores como Fernando de Matos Rodrigues.

A duplicação da rodovia neste trecho está adiantada. A terraplanagem e a construção do aterro da segunda pista já estão quase prontos, a não ser por um detalhe: a barraca de frutas do Nando. Fernando e a mulher, Rosélia Oliveira Mesquita, sobrevivem do que vendem no pequeno comércio localizado na faixa de domínio da estrada e aguardam sua remoção.

Durante o inverno, Rosélia cuida da barraca enquanto o marido pesca na lagoa os peixes que ela prepara e serve aos caminhoneiros que trafegam pela BR-101 Sul. No verão, como agora, a pesca está proibida, mas eles ganham a vida vendendo produtos agrícolas da região para os turistas que trafegam em grande número.

São abacaxis pequenos, mas muito doces, plantados em "terra de areia", "sem agrotóxicos", ressalta o Nando. Bananas de diversas espécies, abóboras, cebola, alho, "tudo produção da região", dão um colorido especial à barraca coberta de lona amarela, decorada com vidros de pimenta, garrafadas de pinga com raízes, sacos de farinha de mandioca, polvilho e açúcar mascavo.

Mas a mesma estrada que garante a sobrevivência de Nando e Rosélia, agora, quando precisa crescer para se duplicar, ameaça tirar-lhes o sustento. Centenas de barracas como essa, construídas ao longo dos últimos 35 anos, desde que a rodovia foi inaugurada, estão sendo desapropriadas pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit).

Fernando e Rosélia ainda não sabem para onde vão, sabem que a única coisa que necessitam é manter um ponto de comércio à beira da estrada, "se possível perto do lugar onde se instalaram há 11 anos".

A equipe do Dnit, responsável pelo Programa de Reassentamento da População de Baixa Renda, está estudando os casos desses pequenos comerciantes e a possibilidade de removê-los para outro lugar onde possam manter seu negócio.

Em outras rodovias já duplicadas no Rio Grande do Sul, como a chamada "free-way", que liga Osório a Porto Alegre, todos os comerciantes foram removidos e não puderam mais se instalar. Ao longo das duas pistas, separadas por um canteiro central, só gramado e cercas. A equipe de reportagem da Radiobrás presenciou o resgate de um motorista que dormiu ao volante e deixou o caminhão tombar no acostamento.

Os turistas, os caminhoneiros e os motoristas em geral não têm mais onde parar para tomar um coco gelado, conversar com os habitantes do lugar, conhecer a produção local, sentir o aconchego de uma acolhida, contar com a prosa e a presença humana e humanizadora de um ribeirinho amigo.