Especial 7 - Saiba mais sobre as reservas de urânio e os estudos nucleares no Brasil

20/01/2006 - 8h53

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio - Com a criação da primeira usina de enriquecimento de urânio, o Brasil poderá aproveitar melhor uma das suas maiores riquezes. As reservas brasileiras de urânio são estimadas hoje em 309 mil toneladas, ao custo de U$ 30,00 por tonelada. Os cálculos são do diretor da área de Enriquecimento da INB, Carlos Freire Moreira.

A empresa, vinculada à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, utiliza o urânio da mina de Caitité (BA) para o desenvolvimento de projetos tecnológicos voltados à geração de energia nucleoelétrica. O primeiro complexo mínero-industrial da INB era a mina de Poços de Caldas(MG).

A INB conta também com as minas de Santa Quitéria(CE) e Rio Cristalino(AM). O Brasil é a sexta potência mundial em termos de reservas de urânio, com apenas 1/3 do território prospectado. "Como esse Brasil é imenso, existem possibilidades fortes de se descobrir mais urânio", revela o diretor da empresa.

Criada em 1988, a INB substituiu a antiga Empresas Nucleares Brasileiras S/A (Nuclebrás), vindo a incorporar, em 1994, suas controladas NUCLEBRÁS Enriquecimento Isotópico S.A. (NUCLEI); Urânio do Brasil S.A. e NUCLEMON Mínero-Química Ltda. Nessa época, a empresa passou a explorar e desenvolver os processos industriais do ciclo do combustível nuclear.

A INB atua na exploração do urânio, desde a mineração e o beneficiamento primário, até a produção e montagem dos elementos combustíveis que acionam os reatores de usinas nucleares. O conjunto destas atividades constitui o chamado "ciclo do combustível nuclear". A companhia atua, também, na área de tratamento físico dos minerais pesados com a prospecção e pesquisa, lavra, industrialização e comercialização das areias monazíticas e obtenção de terras-raras.

De acordo com dados da INB, a história da energia nuclear no Brasil foi iniciada na década de 40. Em 1947, o físico brasileiro César Lattes, em trabalho realizado nos Estados Unidos junto com os também físicos Cecil Powell e Giuseppe Ochialini, identificou e isolou o méson-pi (também chamado de píon, é uma partícula subatômica cuja existência havia sido prevista pelo físico japonês Hideki Yukawa em 1935), contribuindo para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949.

Em setembro de 1957, o presidente da República, Juscelino Kubistchek de Oliveira, inaugurava o funcionamento do reator nuclear de pesquisa IEA-R1, adquirido pela Comissão de Energia Atômica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), dois anos antes.

Em 1962, foi implantado o Centro de Energia Nuclear para a Agricultura de Piracicaba. Já em 1967, a Comissão Nacional de Energia Nuclear(CNEN) dava início aos estudos para a criação da primeira usina nuclelétrica brasileira, encarregando Furnas Centrais Elétricas, principal concessionária na construção de usinas hidrelétricas, de sua execução.

Oito anos depois, em 1975, foi assinado o Acordo Brasil-Alemanha, que previa a construção de oito usinas nucleares no Brasil, para entrada em operação em 1990. Isso não ocorreu, em razão de forte reação externa, principalmente dos Estados Unidos e da União Soviética, relata a INB.

Essa ressalva na questão do enriquecimento do urânio levou o Brasil a criar um Programa Nuclear Autônomo, a partir de 1979, onde se desenvolveram tecnologias do ciclo do combustível nuclear para uso como fonte propulsora para submarinos da marinha. A Fábrica de Elementos Combustíveis foi inaugurada em 1982 pelo presidente da Nuclebrás, Paulo Nogueira Batista, durante a gestão do presidente João Baptista Figueiredo. A unidade foi considerada "um novo marco na industrialização do país".

A crise econômica iniciada no país na década de 80 e que se prolongou até os anos 90 contribuiu para atrasar o cronograma do programa nuclear brasileiro e, por isso, a Usina de Angra I, cuja construção fora iniciada ainda na década de 70, só entrou em operação comercial em 1985. A Constituição de 1988 deu novo fôlego ao setor nuclear, cuja reestruturação objetivou aproximar as atividades dos dois programas existentes no Brasil (o desenvolvido no âmbito do Acordo Brasil-Alemanha e o implementado pelo Programa Autônomo), quando começa a história da INB.