Especial 5 - Para pesquisador da UFRJ, fábrica de combustível nuclear é ''avanço''

20/01/2006 - 9h06

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio - Enquanto as organizações ambientais protestam contra a primeira fábrica brasileira de enriquecimento de urãnio, a ser inaugurada nos próximos dias, boa parte da comunidade científica comemora a nova usina de produção integral do combústivel nuclear. O professor do Programa de Engenharia Nuclear da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Aquilino Senra, vê a fábrica como um "avanço" para o país.

De acordo com Senra, na década de 70, o Brasil tentou comprar essa tecnologia em acordo com a Alemanha, mas não houve progresso diante da impossibilidade do processo alemão ser implementado em escala industrial."Então, o país tomou a iniciativa de fazê-lo de forma independente. E conseguiu. Quem faz por último, sempre faz melhor", brinca o pesquisador. "O Brasil utilizou a melhor tecnologia. Temos a ponta de linha, ou seja, o que tem de melhor hoje na praça."

Para o professor da UFRJ, a falta de conhecimento sobre a utilização da energia nuclear é o principal entrave à plena conscientização do tema. Ele lembra que a energia nuclear em todo o mundo ficou relacionada às bombas de Hiroshima e Nagasaki, utilizadas na Segunda Guerra Mundial. A utilização médica, para o combate ao câncer, por exemplo, acabou ficando em segundo plano no imaginário da população.

Senra lembra também as aplicações da energia nuclear na agricultura. "Hoje, está se falando de preservação de alimentos, utilizando radiação", conta ele. "Nos Estados Unidos, chegou-se à conclusão que 30% das infecções estomacais vinham de carnes não devidamente tratadas. Hoje, se irradia os hambúrgueres para combater os microorganismos."

O pesquisador defende que no setor energético a alternativa nuclear se torna ainda mais necessária. Para acelerar o desenvolvimento econômico, ela teria sido usada com sucesso por países como Estados Unidos, França, Alemanha, Inglaterra, Coréia do Sul e Japão. Hoje, a China também estaria investindo no setor.

Aquilino Senra afirma que o petróleo terá no futuro sua utilização reduzida devido ao custo elevado que deverá apresentar nos próximos 20 anos: "A energia nuclear está aí, claramente, com essa potencialidade de vir a substituir o petróleo na área de geração de energia elétrica, com a vantagem de não contribuir com o efeito estufa."