Marcos Ricardo dos Santos
Repórter da TV Brasil
Brasília – Aplicar em sua própria organização os princípios da democracia é um dos principais desafios do Fórum Social Mundial (FSM), na avaliação do finlandês Teivo Teivainen, representante da Rede pela Democratização Global no Conselho Internacional do FSM. Para Teivo, nos últimos cinco anos, o Fórum vem sofrendo "um processo de aprendizagem, no qual cada vez tenta colocar em prática o que se predica para fora".
Nesse sentido, a organização do FSM fez algumas mudanças para a participação nos encontros. Uma dessas novidades é que, pela primeira vez, o Fórum será "policêntrico", ou seja, dividido em três encontros.
Teivo destaca também a importância de se discutir a existência das relações de poder dentro da organização do FSM. "Tentar negar que as relações de poder existam significa que elas podem ser ainda mais poderosas", afirma o finlandês, que atualmente é professor de Ciência Sociais na Universidade de São Marcos, no Peru.
"O melhor seria explicitá-las e tentar ver o Fórum como um espaço político onde há relações de poder e pensar em como se poderia organizá-lo da maneira mais democrática possível". Na avaliação do professor, o caminho para se alcançar a aplicação dos princípios de organização democrática no FSM passa por um processo de "politização" do Fórum. "Já sabemos que 'um outro mundo é possível'. Mas cada vez mais as pessoas se perguntam como é esse outro mundo e como fazemos para chegar lá. Para responder a essas perguntas, é preciso repensar um pouco o método do Fórum como espaço".
Teivo sublinha também a importância de se rediscutir a questão do conceito de representação dentro do Fórum Social Mundial. Ele explica que, nas quatro edições realizadas no Brasil essa questão tinha uma importância secundária, já que todas as entidades que encabeçavam a organização do Fórum tinham posicionamentos políticos similares e uma ligação estreita com um único partido. No evento realizado na Índia, ao contrário, diferentes partidos de esquerda disputavam um espaço no comitê organizador. "Com a expansão do Fórum, este é um tema que não pode ser mais ignorado", diz Teivainen.
Ele afirma que há uma tendência de setores da esquerda de encarar a democracia representativa como parte de um sistema antigo e que deveria ser superado, mas alerta que a crítica ao sistema atual não pode ser confundida como uma negação do conceito de representação, que, para ele, deve ser discutido de forma mais aprofundada.
O 6º Fórum Social Mundial (FSM) acontece, quase simultaneamente, em três continentes diferentes. Nas versões anteriores, o encontro aconteceu quatro vezes em Porto Alegre (2001, 2002, 2003 e 2005), intercalado por uma edição em Mumbai, cidade indiana antes conhecida como Bombaim.
Entre os dias 24 e 29 de janeiro, o Fórum será realizado em Caracas, capital venezuelana. Poucos dias antes, o encontro acontece em Bamako, capital de Mali, país no noroeste africano. Alguns meses depois, está programada a parte asiática do FSM, em Karachi, cidade paquistanesa.