Presidente da Gtech confirma que Waldomiro e Buratti tentaram interferir em contrato

27/12/2005 - 17h15

Michèlle Canes
Da Agência Brasil

Brasília – O presidente da empresa de informática Gtech, Fernando Antônio Cardoso, disse, em depoimento à Polícia Federal, que Rogério Buratti e Waldomiro Diniz tentaram interferir nas negociações para renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal. "Ele confirmou que tentaram interferir nas negociações da Caixa e reafirmou que a Gtech não pagou nada e que as negociações com a Caixa já tinham sido acertadas antes da tentativa de interferência dos dois" disse o assessor da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos Leonardo Rolim, que esteve presente no depoimento.

Buratti trabalhou na prefeitura de Ribeirão Preto, durante a primeira gestão de Antonio Palocci, entre 1992 e 1995. Waldomiro trabalhava na Casa Civil, na época da renovação do contrato, em 2004.

O assessor da CPI disse que o nome de Palocci, hoje ministro da Fazenda, não foi citado. Disse ainda que, quando questionado sobre que tipo de força Buratti teria para interferir na assinatura de contratos entre a Caixa e a Gtech, Cardoso repetiu a versão de Marcelo Rovai, ex-diretor de marketing da Gtech.

"Rovai teria falado que de alguma forma negociou com o Buratti mas não propriamente acertou valores mas também não rechaçou a tentativa de extorsão porque o Buratti teria demonstrado força", disse o assessor da CPI. Mas, segundo os dois funcionários da Gtech, "quando o Rovai foi à Caixa para assinar o contrato, o contrato não foi assinado conforme o Buratti teria afirmado".

O presidente da empresa disse também hoje que a Caixa Econômica ainda não fez o desligamento de nenhuma casa lotérica com a sua empresa. Segundo o assessor da CPI, o presidente da Gtech afirma que até hoje (27), cerca de dois mil terminais já deveriam estar sob gestão da Caixa Econômica. O banco encerrou o contrato com a Gtech em outubro deste ano e a migração total para as máquinas da Caixa está prevista até maio de 2006.

"Hoje o Fernando Cardoso informou que até agora nenhuma lotérica está desconectada da Gtech. Havia uma previsão da Caixa ir assumindo todas as unidades lotéricas que são processadas pela Gtech até maio de 2006. Eu acho que tem que ser confirmado se a Caixa está cumprindo o seu cronograma ou não". De acordo com o Rolim, a Caixa afirma que já assumiu parte dos terminais e que até maio de 2006 estará "livre da Gtech".

Outro ponto importante do depoimento, de acordo com Rolim, foi o fato de Cardoso confirmar as reuniões entre a Caixa e a Gtech para novos produtos fossem feitos em parcerias entre as duas empresas. "Ele confirmou que aconteceram as reuniões no final de 2003 e no inicio de 2004, mas que não chegou a fechar nenhum negócio. Não chegou sequer a haver alguma proposta, apenas discussões. De qualquer forma, o simples fato de haver essas discussões mostra que a relação entre Caixa e Gtech não era de uma empresa que estava para sair mais de uma empresa que esta discutindo ate ampliação de sua participação".

No depoimento, Cardoso teria dito que as negociações teriam sido abortadas devido as notícias de escândalos envolvendo Waldomiro Diniz. Um dos produtos que estavam sendo negociados era o sistema do Caixa Aqui, que é um dos correspondentes bancários não lotéricos implantados pela Caixa Econômica a partir de 2001 em padarias e supermercados. "A importância maior para a Gtech é que o Caixa Aqui é muito similar aos produto lotérico. A única coisa que ele não tem é o jogo mas todas as outras operações são feitas lá também. Com a Gtech assumindo Caixa Aqui, a Caixa econômica estaria com uma dependência ainda maior do que a que já tinha" disse Rolim.

Amanhã, a Polícia Federal escuta às 10 da manhã o depoimento de José Lindoso Albuquerque, ex-diretor comercial da Caixa Econômica.