Coordenadora do Movimento Nacional de Direitos Humanos cobra investigação sobre ditadura

21/12/2005 - 17h31

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A coordenadora-geral do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Roseana Queiroz, defende que além de abrir os arquivos da ditadura militar o governo federal realize uma investigação sobre o período. Os documentos secretos da do período que estavam em poder da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foram transportados hoje (21) para o Arquivo Nacional de Brasília. As informações estarão disponíveis ao público a partir do início de 2006.

"É preciso fazer toda uma reconstituição e investigação desse período histórico. Teria que haver uma comissão permanente, com a participação de todos os poderes do Estado e da sociedade civil, para que a sociedade pudesse acompanhar e controlar esse processo, de modo que isso possa ser um patrimônio nosso", afirmou a coordenadora. Para ela, a disponibilização dos documentos "ainda é pouco", já que documentos ultra-secretos ainda ficaram sob sigilo.

Queiroz também se preocupa com a preservação e divulgação dos documentos. "Há documentos que ainda estão por aí, como os estavam em Salvador e foram queimados e destruídos. Essas documentações não estavam guardadas só aqui em Brasília, na Abin, mas também em muitos outros lugares. É preciso buscar isso e saber se houve alguma forma de esconder e de sumir com esses documentos".

Roseane Queiroz crítica a atuação da Comissão Interministerial criada pelo governo atual para acompanhar o assunto, principalmente porque o grupo não possui nenhum representante da sociedade civil. "Essa comissão não pode funcionar assim. Mais do que uma comissão ministerial deveria ser uma comissão de Estado, com participação dos poderes e com a abertura para a sociedade civil acompanhar o processo", defende.

Para ela, o governo brasileiro deve adotar uma postura semelhante à de países vizinhos, que teriam avançado mais no tratamento dos assuntos relacionados ao períodos de repressão militar. "O governo deveria ter mais coragem. O presidente Lula deveria se espelhar nos exemplos que temos aqui na América Latina. O Peru fez uma investigação profunda. O Chile que passou por uma situação bem mais bárbara e sangrenta e fez uma investigação mais forte. O governo deveria fortalecer essa discussão. Está na hora. A sociedade espera por isso".

Para a coordenadora-geral do MNDH, a abertura e recuperação desses documentos são importantes para que o povo brasileiro resgate parte da sua memória. Mas não adianta disponibilizar informações, de acordo com Roseana, "se não houver um projeto de pesquisa para transformar isso em um instrumento pedagógico de reconhecimento da nossa identidade e da nossa história".

Hoje de manhã 13 arquivos de aço, com fotos, cartazes, filmes, livros, panfletos e revistas, 220 mil microfichas, além de 1.259 caixas foram transportados da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o Arquivo Nacional de Brasília. Três caminhões e duas vans foram utilizados para levar os documentos. O material foi produzido pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN) e pela Comissão Geral de Investigações (CGI), no período de 1964 a 1990.