Leilão de energia causou desencanto, afirma representante de empresários

16/12/2005 - 15h07

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio - O presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica (CBIEE), Cláudio Sales, critica as regras estabelecidas para o leilão de energia nova, que se realiza hoje no Rio. O leilão é assim chamado porque comercializa energia elétrica que será produzida em empreendimentos que ainda não foram construídos, ou por novas usinas já prontas mas cuja produção ainda não está contratada.

Para o presidente da CBIEE, o mercado está olhando para o leilão com uma certa apreensão, sentimento que segundo ele, contrasta com o entusiasmo apresentado quando o governo anunciou a licitação para a construção de novas usinas. Sales acrescenta que, quando vieram as regras com o teto do preço de venda da energia determinado para as usinas novas, "o entusiasmo inicial converteu-se em desencanto".

O preço estipulado para o leilão é de R$ 116 por Mw/h (megawatt/hora). Sales diz que o valor vai acabar provocando a participação maior do setor público, porque já há empreendedores privados que desistiram de concorrer às licitações por acreditarem que o custo é muito elevado para a remuneração do investimento. "A conta não fecha com R$116, ou seja, para alguns projetos não é viável. Para outros de perfil mais barato, os R$ 116 chegam a viabilizar uma taxa dessas, mas lamentavelmente são poucos, três ou quatro projetos e de menor porte", afirmou.

A fixação desse valor, de acordo com o presidente, significa um paradoxo e falta de racionalidade econômica para a primeira fase do leilão destinada aos projetos de construção de usinas. Ele comentou que o investidor que desistir de participar dessa etapa ficará de fora do leilão e poderá ver nas duas etapas seguintes, quando será incluída a venda da energia de usinas já construídas, os preços mais elevados, porque para essas fases não há o limite.

Segundo Sales, as mudanças de algumas regras feitas poucos dias antes do leilão trouxeram instabilidade ao mercado, o que segundo ele, não está acontecendo no Chile, onde também haverá um leilão de energia. "O Chile colocou um teto de sessenta e poucos dólares por megawatt/hora e os analistas dizem que, dada a competição que sabidamente vai acontecer no mercado, o preço final deve cair para trinta e poucos dólares. As regras são claras e transparentes. A mesma coisa podia acontecer aqui no Brasil, se acreditassem mais no mercado, para que, da maior competição, resultasse o menor preço para o consumidor", disse.

O superintendente de Estudos Econômicos do Mercado da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Alves, contesta o argumento de que o teto de R$ 116 torna inviável o investimento. Ele explica que o valor não foi definido pela Aneel, mas pondera que há três anos o custo da energia nova correspondia a US$ 40. " O governo está se comprometendo em comprar a energia por R$ 116, então, nessa relação com três anos atrás, está com preço bom", afirmou.