Mylena Fiori
Enviada especial
Hong Kong (China) – Um documento, lançado hoje (16), pode ter marcado o nascimento do G 110 – nome usado por alguns negociadores para batizar a possível união entre a maioria das nações do Sul do planeta. Atualmente, os chamados países em desenvolvimento se unem em torno do G 20 – grupo de 21 nações que pede redução de subsídios agrícolas. Os países pobres unem-se em várias frentes: G 33, ACP (África, Caribe e Pacífico), LDCs (Países de Menor Desenvolvimento Relativo, pela sigla em inglês), Grupo da África e Pequenas Economias.
Hoje, no quarto dia da 6ª Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), todos esses grupos lançaram, pela primeira vez, um documento conjunto. Juntos, todos esses países representam a maioria dos 149 membros da OMC e 80% da população do planeta, segundo seus líderes. O texto pede o fim de distorções e injustiças no comércio internacional, apontando duas soluções: a definição de uma data para o fim do subsídio dos países ricos à sua exportação e tratamento especial para as nações pobres.
"Considero um momento histórico. Pela primeira vez estamos construindo algo muito concreto, reconhecendo nossas diferenças e tentando conciliá-las", disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao anunciar o documento, em entrevista coletiva.
No documento, os países reafirmam a dimensão de desenvolvimento da atual rodada de negociações, lançada em Doha, capital de Catar, há três anos. Eles pedem aos países desenvolvidos que aceitem a data de 2010 para o fim dos subsídios à exportação e concretizem a proposta de apoio aos países de menor desenvolvimento relativo - dois pontos onde ainda há expectativas de consenso na cúpula de Hong Kong.
"Os países desenvolvidos tentam criar divisões entre os países em desenvolvimento. Dizem que não podem abrir mercado para o Brasil porque vai afetar Zâmbia ou as Ilhas Maurício. Os dois estão aqui e estamos todos dividindo a mesma plataforma", afirmou Amorim.
O ministro indiano de Comércio e Indústria, Kamal Nath, também definiu a aproximação do mundo em desenvolvimento como um momento único na história da OMC. "É algo histórico", disse. "O que nos une é o desejo de não perpetuar as desigualdades no comércio internacional. Isso acontecerá em Hong Kong se não formos capazes de coordenar posições".
No final da entrevista, Mary Robinson, presidente da organização da sociedade civil Oxfam, subiu ao palco, parabenizou os ministros. Também declarou: "A solidariedade de vocês vai fazer desta rodada a rodada do desenvolvimento".