Mylena Fiori
Enviada especial
Hong Kong (China) – Nem só os governantes estão discutindo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Cerca de 400 representantes da sociedade civil participam, como observadores, da 6ª Reunião Ministerial da OMC – alguns integram as delegações dos governos. Do lado de fora do Victoria Harbour, em que ocorre o encontro, cerca de 10 mil militantes também debatem comércio. Mas participam de encontros paralelos, organizados por movimentos sociais, sindicatos e organizações não-governamentais.
A bandeira levantada pela sociedade civil organizada tem sido a de que nenhum acordo é melhor do que um mau acordo. "Nossa intenção é garantir direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. É garantir que esses princípios estejam acima de qualquer negociação comercial", diz Iara Pietricovsky, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). "Vamos negociar, mas negociar em bases justas, democráticas, transparentes, compondo com todos os setores da sociedade. Aí podemos chegar a certos acordos que beneficiem a maioria da população do planeta", acrescenta.
Iara integra a delegação oficial brasileira como representante da Rede Brasileira de Integração dos Povos (Rebrip). Como tal, ela tem participado de algumas reuniões de negociação entre os países membros da OMC. "Basicamente, fazemos aqui é pressão sobre os governos para garantir que temas como água, saúde e educação não entrem em negociações comerciais, pois são de interesse público", avalia.
A representação da sociedade civil brasileira em Hong Kong conta cerca de 50 pessoas ligadas a entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), entre outras.
Em relação ao tema central da rodada, a agricultura, os ativistas atuam no sentido de proteger a agricultura familiar e garantir a soberania dos países em desenvolvimento na definição de suas políticas de segurança alimentar. "Os elementos que estão na mesa estão muito mais vinculados aos interesses das grandes corporações do agronegócio, que acabam multiplicando capital sem benefício nenhum para a maioria da população da terra, não só no Brasil", enfatiza Iara.
Segundo ela, os pequenos agricultores europeus também estão sofrendo pressão da agroindústria, que recebe os subsídios agrícolas. "A gente tem que aprender a olhar essa batalha de uma outra maneira, e olhar com muito cuidado, pois existe muita desigualdade. Como sociedade civil, estamos pressionando os governos para que tenham sensibilidade com a exclusão social que isto vem produzindo", conclui.