Países em desenvolvimento fortaleceram interesses comuns na OMC, diz conselheiro do Itamaraty

13/12/2005 - 12h20

Mylena Fiori
Enviada especial

Hong Kong – Na avaliação do chefe do departamento de Agricultura e Produtos de Base do Ministério das Relações Exteriores, conselheiro Flávio Damico, as negociações em torno de tarifas para o comércio internacional e subsídios para a produção agrícola e industrial não avançaram no primeiro dia da 6ª Reunião Ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC). Ele ressalta, porém, que os diferentes grupos de países em desenvolvimento deram mais um passo de aproximação e fortalecimento de posições comuns.

Ministros de grupos como o G 20 (formado atualmente por 21 países em desenvolvimento que possuem interesses de defesa comum na área de agricultura), o G 33, o Grupo Africano, a Comunidade do Caribe (Caricom) e os países da África, Caribe e Pacífico (ACP) - que representam cerca de 80% da população mundial - reuniram-se hoje (13), após a abertura oficial do encontro.

"Os países em desenvolvimento, que compõem a maioria dos membros da OMC, se encontram bastante desestruturados e sem capacidade negociadora para, sozinhos, serem influentes no processo", avalia Damico. "A aliança não é simples, pois cada grupo se formou em torno de interesses comuns. O G20, por exemplo, tem foco na agricultura, enquanto que o que une os países da África, Caribe e Pacífico são as preferências junto ao mercado europeu. O Grupo Africano atua por solidariedade geográfica", acrescentou.

Segundo o conselheiro, não é possível afirmar que haverá uma convergência "imediata" de interesses por parte desses grupos, "pois existe uma percepção de que esses interesses são relativamente diversificados". Ele destacou, no entanto, que a reunião de Hong Kong é uma rodada de negócios voltada ao desenvolvimento, daí a importância desses grupos conversarem sem a "intermediação" de países como os que formam a União Européia.

Damico informou que o ministro de Comércio da Zâmbia, Dipak Patel, reconheceu a importância do gesto do Brasil e da Índia que, como líderes do G20, acenaram com a possibilidade de acesso livre de cotas e tarifas para produtos de países em desenvolvimento. A Zâmbia coordena o grupo dos países de Menor Desenvolvimento Relativo.

"Foi reconhecido como um gesto importante no sentido de evitar que os países de menor desenvolvimento e os países que se beneficiam de preferências fiquem atados a uma circunstância de dependência de poucos produtos e poucos mercados", relatou Damico. "Ainda que interesses concretos possam, eventualmente, separar os países em desenvolvimento, ainda existe um campo comum que pode ser explorado com proveito em uma rodada voltada para o desenvolvimento", concluiu.