Mylena Fiori
Enviada Especial
Hong Kong (China) - Um dos temas em pauta na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio é a elaboração de um pacote de desenvolvimento para os países mais pobres (os chamados países de menor desenvolvimento relativo – LDC). O assunto foi tema de reunião, na noite de ontem (12), entre Brasil, Japão, Estados Unidos, União Européia, Austrália e Índia, com a participação do presidente da OMC, Pascal Lamy. Participaram do encontro, pelo lado brasileiro, os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.
Ao final da reunião, Amorim lembrou que foi a polêmica em torno desse assunto que levou ao "colapso" a última Conferência Ministerial, realizada em Cancun em 2003. "O pacote de desenvolvimento é importante intrinsecamente, porque é um percentual grande da humanidade que depende disso. É importante também porque se isso não for feito corremos o risco de chegar no final e as negociações entrarem em colapso por uma questão que não foi atendida", avaliou.
Amorim também destacou a importância da unidade da proposta dentro do G6 (Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França e Itália). "Acho muito significativo que estes países do G6 estejam trabalhando para ter uma plataforma comum de interesse dos países de menor desenvolvimento, em vez de usar isso para criar divisões entre os países em desenvolvimento", disse Amorim, referindo-se a uma eventual aliança dos países mais pobres com a União Européia, contra os interesses do G 20, a fim de preservar as preferências já conquistadas no mercado europeu. O G20 é formado pelos países em desenvolvimento, que concentram 60% da população rural, 21% da produção agrícola, 26% das exportações e das 18% importações mundiais.
A plataforma comum que está sendo negociada, segundo Amorim, envolve acesso, livre de cotas e tarifas, dos produtos de países pobres aos demais mercados. "Vamos tentar fazer o máximo possível nesta direção, com o compromisso multilateral forte, mas com uma certa flexibilidade", relatou, destacando que os países em desenvolvimento não poderão oferecer o mesmo que a União Européia, os Estados Unidos e o Japão. Na avaliação do chanceler, porém, o Brasil e o Mercosul estão preparados para abrir seus mercados, livres de cotas e tarifas, aos países mais pobres. "Tomando cuidado, também, para não afetar os interesses do Paraguai, que é um dos países mais pobres da nossa região", ponderou o ministro.
Para Amorim, além de abrir os mercados é preciso ajudar os países mais pobres a diversificar e agregar valor à produção "Não adianta estar livre de tarifas e de cotas se os países não tiverem oferta exportável".