Ciro reconhece necessidade de maior diálogo com comitês de bacia sobre o São Francisco

09/12/2005 - 18h59

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Durante todo o dia de hoje (9), governo e sociedade conversaram sobre o projeto de integração do Rio São Francisco às bacias do Nordeste setentrional. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, ressaltou que já houve vários debates, mas reconheceu que é preciso um contato maior do governo com os comitês de bacias receptoras. "Praticamente não conversamos, nunca demos bola aos comitês de bacias receptoras. Peço desculpas."

O ministro complementou: "Estamos fazendo porque Lula pediu em respeito ao frei Cappio". O diálogo com todos os brasileiros foi uma promessa feita pelo governo federal para terminar, após onze dias, com a greve de fome do Bispo da Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio.

Vários foram os argumentos contra ou a favor do projeto. Entre as questões levantadas, três geraram bastante polêmica, não apenas no debate em Brasília, mas também naqueles realizados nas demais regiões ou nas TVs: a revitalização do Rio, a evaporação da água e a possibilidade de um plebiscito.

O ministro Ciro Gomes explicou que o governo federal está destinando R$ 4,5 bilhões para cuidar dos problemas já existentes no Rio São Francisco, ou seja, em obras de revitalização. No entanto, Ciro disse que estados e prefeituras não têm projetos e, assim, não tem como investir todo esse dinheiro: "Se eu lhe der o dinheiro, no fim de 2006 você vai me devolver, porque os prefeitos não têm projetos".

Um dos questionamentos feitos pelos debatedores é o seguinte: já que o projeto de revitalização, para ser bem feito, vai levar algum tempo ainda e o projeto de integração vai causar alguns impactos ambientais, não seria mais prudente, primeiro, cuidar dos problemas já existentes para depois fazer a integração de bacias? O ministro disse que os dois projetos serão feitos simultaneamente e que as ações de recuperação do São Francisco vão levar 20 anos para serem concluídas.

Por causa do calor, a evaporação da água no Nordeste é muito grande. Em Fortaleza, por exemplo, "evapora três vezes mais do que chove", destacou o frei Gil Vander Moreira, que representou a Conferência dos Religiosos do Brasil. Com a alta evaporação, "será que basta apenas levar a água?".O ministro garantiu que "apenas 2% a 3% da água que vai passar nos canais evapora".

A terceira questão é a possibilidade de se fazer um plebiscito que decida pela realização ou não do projeto de integração, já que o tema vem gerando grande polêmica. Neste ponto, Ciro Gomes, é sucinto. "Queremos inviabilizar?".

O ministro afirmou que as críticas vêm em função do trabalho. "Quem não faz nada não é atacado. Não aceito o argumento de dom Cappio de que o projeto é para beneficiar empreiteiras. Eu sou obrigado a aceitar? Não sou santo nem religioso, e não aceito".