Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A 1ª Câmara da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julgará nesta quarta-feira o processo de anistia da família de Virgílio Gomes da Silva, o primeiro "desaparecido" político do país após a decretação do Ato Institucional número 5, morto depois de ter sido preso pelo regime militar, em 1969.
A Primeira Comissão de Anistia analisa pedidos de indenização formulados pelas pessoas que foram impedidas de exercer atividades econômicas por motivação exclusivamente política desde 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988. No processo a ser analisado amanhã, além de Virgílio Gomes, serão tidos como vítimas sua mulher, Ilda Martins da Silva, e seus dois filhos, Vlademir Gomes da Silva e Isabel Maria Gomes da Silva.
Segundo o advogado Francisco Lúcio França, integrante do grupo Tortura Nunca Mais, essa será a primeira vez que um processo desse tipo inclui os filhos de uma pessoa morta pela ditadura como vítimas do regime. "A gente tem informação de que os filhos tiveram que fugir de vários locais. E, quando uma criança é tirada do convívio familiar, vive sob tensão ou sob ameaça, ela também está sofrendo um processo de tortura, que não é física, mas psicológica. E tem seqüelas permanentes", diz França.
Virgílio Gomes da Silva, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi preso pela Operação Bandeirante (Oban) em setembro de 1969. Seu corpo nunca foi encontrado, mas documentos descobertos no ano passado no Arquivo do Estado de São Paulo mostraram que ele passou por exame necroscópico no Instituto Médico Legal de São Paulo em 30 de setembro de 1969. Até a descoberta, a família convivia apenas com a versão de que Virgílio "estava desaparecido".