Trabalhadores e assentados de diferentes regiões assistem à entrega de títulos de posse na Bahia

29/09/2005 - 8h33

Mylena Fiori
Enviada especial

Porto Seguro (BA) - Mais de 500 agricultores, trabalhadores e assentados deslocaram-se de diferentes regiões no extremo sul da Bahia nesta semana. Com suas melhores roupas e sandálias, ou paramentados com camisetas, bonés e bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, foram assistir à entrega do título de posse da Fazenda Coroa, entre Eunápolis e Porto Seguro, a 68 famílias que até o último final de semana aguardavam assentamento no acampamento Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lulão.

José Raimundo, de 41 anos, ex-pedreiro, ficou dois anos e meio acampado no Lulão e na última semana foi transferido, com mais 179 famílias, para a Fazenda Cerro Azul, em Porto Seguro, área que está em fase final de compra pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária. "Trabalhava de pintor e de pedreiro e cansei de ser escravo do meio social. O que vem pela frente é mais luta ainda porque tenho uma família de cinco pessoas e quero cair na roça para ver se minha família consegue viver direito", contou.

Os irmãos agricultores, Sebastião e Nozinho Ribeiro de Souza, de 66 e 68 anos, trabalham em fazendas da região plantando milho, feijão e mandioca. Eles moram no "comércio" (cidades próximas), foram até a Fazenda Coroa para ver Lula, Concentrados em cada discurso, não disfarçavam sua admiração pelo presidente da República. "Tenho três filhos que também trabalham na roça dos outros e moram no comércio. Ainda não deu para ter a nossa terrinha, mas o presidente fez muita coisa boa. Ele aposentou os velhos com 65 anos...não vai perder mais nunca", disse Nozinho. "É mesmo, ele fez muita coisa boa. Vim ver, pois só tinha visto ele na TV", concordou Sebastião.

À frente de cerca de 50 crianças transferidas do Lulão para a Fazenda Coroa – os sem-terrinha - Luciana dos Santos Ernesto, de 11 anos, estudante da 6ª série do ensino fundamental, carrega com orgulho um buquê de rosas para entregar ao presidente em agradecimento. Toda a família – pais, irmãos, tios e primos - residia no Lulão desde a criação do antigo acampamento. "Lá a gente tinha escola até a quarta série e aqui vai ter também. Vou ajudar meu pai a plantar na terrinha da gente e continuar estudando, para ser alguém na vida", disse com consciência de gente grande. Segundo a menina, cerca de 200 crianças ex-acampadas vivem hoje na Fazenda Coroa.

Após a entrega das flores, os trabalhadores sem-terra fizeram uma declaração explícita de admiração ao presidente, declamada por um dos moradores do assentamento. "Temos um presidente que entende o que é querer e não poder ser um trabalhador. Um presidente que conhece o país que viu as longas cercas cercarem e prenderem a terra, que a fome mata mais que a guerra, e que a paz sem trabalho não existe. Temos um presidente que alargou tanto as alianças, mas que goza dos pobres a confiança, que saberá separar o joio do trigo para continuar sendo este grande amigo. Veja, presidente, os ricos têm recursos, tudo podem fazer. Nós só temos você, não deixe os nossos lábios pararem de sorrir".