Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio – A sociedade brasileira não se satisfaz mais com a divulgação simples dos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avalia o economista João Sucupira, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Segundo ele, deveriam ser aprofundados os dados do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma das riquezas produzidas no país.
O que interessa, segundo Sucupira, não é quanto o PIB cresceu, mas sim, "o quanto de melhoria na distribuição de renda este país obteve nos últimos meses". Segundo o diretor do Ibase, falar que a taxa de investimento foi de tal percentual e se equiparou à de período anterior "é economês puro". "É uma coisa que a gente já está por demais calejado para saber que não leva a nada", disse.
João Sucupira salientou que o que deve ser discutido é a questão do modelo de desenvolvimento e o que se quer para o Brasil daqui para a frente. "Quer continuar crescendo e concentrando renda e gerando pobreza e riqueza na mão de poucos? Do que se trata efetivamente?", indagou.
O economista frisou que os números do IBGE não devem ser divulgados de forma isolada. "Eu quero saber é onde isso se refletiu na melhoria da qualidade de vida das pessoas que estão hoje no patamar mais baixo da renda no Brasil", afirma Sucupira.
"Não adianta falar que a agricultura gerou um PIB de tanto. Eu quero saber o seguinte: diminuiu a indigência no campo? Melhorou a renda dos agricultores de pouca quantidade de terra?", questiona. "Ou seja, qualificar esses dados. Não dá mais para a gente ficar falando de números frios porque o Brasil mudou".
O diretor do Ibase lembrou que o país não está mais na década de 70, a chamada "década do milagre". Ele admitiu que o aumento de consumo das famílias, que passou de R$ 252,807 bilhões no primeiro trimestre deste ano para R$ 263,015 bilhões no segundo trimestre, tem relevância, mas não traz dados que permitam dizer que o país está satisfeito. "Pode ter aumento do consumo das famílias, mas das famílias ricas. Tem que discriminar isso, tem que fazer uma estratificação", reiterou.
O que importa saber, na análise de João Sucupira, é, por exemplo, se diminuiu o número de pessoas que comem uma vez por dia e se comem. "Há que se dar um passo à frente. A fila andou. Nós não queremos mais ouvir só isso", manifestou.
Ao todo, o PIB somou, de janeiro a junho, R$ 918,6 bilhões. O resultado divulgado, hoje (29), pelo IBGE, corresponde a um crescimento de 3,4% na comparação com o mesmo período de 2004. Esse cálculo não considera a variação de preços. O vice-presidente da Anefac avaliou que os resultados confirmam a expectativa de que o PIB cresça entre 3% a 3,5% este ano.