Embaixador diz que mudancas no calendário das eleições no Haiti não interessam ao Brasil nem à ONU

20/09/2005 - 12h18

Keite Camacho
Enviada especial

Porto Príncipe (Haiti) – O embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, afirmou que há um esforço para manter as datas das eleições presidenciais no país. No entanto, ele lembrou que o Conselho Eleitoral Provisório pode fazer modificações, o que não é do interesse do Brasil nem da Organização das Nações Unidas (ONU).

"As Nações Unidas e o Brasil, como membro fundador da ONU, gostariam que fosse seguido o preceito cultural haitiano de que, no próximo dia 7 de fevereiro, um presidente eleito pelo voto popular tome posse como chefe de estado desse país", afirmou.

Ao todo, 54 candidatos disputam a preferência do eleitor haitiano. O primeiro turno das eleições está previsto para 20 de novembro e o segundo, para 3 de janeiro de 2006. Segundo o embaixador, grande parte deles são de partidos tradicionais no país e querem demonstrar que a sua agremiação existe.

"Desse número, talvez uns sete candidatos efetivamente contem como pessoas que conseguem reunir um grupo de seguidores. Há um amplo espectro de socialistas, social-democratas, democrata-cristãos, que sabem que não têm peso para apresentar um candidato que empolgue a vontade popular", considerou.

O embaixador explicou que vários políticos haitianos querem sentir, no primeiro turno, qual a representatividade deles, para depois negociar a formação de alianças eleitorais. "Você teria quase um aspecto de eleições primárias nos Estados Unidos, a de convenção partidária. O Lavalas, partido do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, por exemplo, tem dois candidatos", disse.

O embaixador se encontrou com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na noite de segunda-feira, no Hotel Montana, onde o ministro está hospedado. Os dois se reuniram com René Préval, candidato à presidência do país, na residência do embaixador.

Préval foi primeiro-ministro de Jean-Bertrand Aristide de fevereiro a setembro de 1991 e presidente da República de dezembro de 1995 a dezembro de 2000. Para estas eleições, ele se registrou como candidato independente no Conselho Eleitoral Provisório, o que confirma a sua ruptura com o Lavalas, partido de Aristide. Préval conta com apoio popular e é considerado, pelas facções políticas, um dos principais concorrentes nas eleições de novembro deste ano.

Nas ruas de Porto Príncipe, a campanha parece não ter começado. No caminho para o Hotel Montana, a comitiva brasileira encontrou um carro identificado com propaganda eleitoral. Com cerca de dez pessoas ao redor, os cabos eleitorais divulgavam o nome de um candidato, sem despertar maior interesse dos pedestres.