Doleiro diz que PT usava falsos empréstimos do Banco Rural para trazer dinheiro do exterior

20/09/2005 - 18h11

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O doleiro Antônio Oliveira Claramunt, conhecido como Toninho da Barcelona, disse hoje (20) que dinheiro repassado ao Partido dos Trabalhadores (PT) pelo Banco Rural provinha de contas do empresário Marcos Valério de Souza no exterior e era trazido ao Brasil por meio de operações com doleiros. Por meio de várias operações financeiras internacionais, o dinheiro entrava no Brasil e ia para as contas do partido, afirmou Toninho à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. Ele teria recebido essas informações de amigos que trabalham no mercado de câmbio.

"Dois esquemas alimentavam a conta do PT. Esses esquemas envolviam o Banco Rural e a [corretora] Bônus-Banval", disse. Um dos esquemas, segundo o doleiro, seriam os empréstimos que Valério faria no Rural. Toninho disse que esses empréstimos eram falsos, e que na verdade se tratava de dinheiro vindo de contas de Valério no exterior. A fachada dos empréstimos seria, portanto, apenas uma maneira de legalizar o dinheiro.

A empresa responsável por trazer esse dinheiro do exterior era, segundo Toninho, a Trade Link, ligada ao Banco Rural. Esses recursos recebidos pela Trade Link a partir das contas de Valério seriam enviados para um outro doleiro, chamado Dario Messer, no Uruguai. De lá, o dinheiro, em dólares, seria recebido pela corretora Bônus-Banval. Para entregar o dinheiro ao PT, a Bônus-Banval precisaria trocá-lo em reais, o que fazia com auxílio de doleiros.

"Troquei R$ 7 milhões para o Banval e soube que esse dinheiro era para o PT", disse Toninho. Segundo ele, amigos teriam lhe contado o destino do dinheiro que ele teria trocado para a corretora.

Toninho disse que Dario Messer operava com a Trade Link uma conta no Panamá. Quando perguntado pelos parlamentares sobre o porquê das movimentações em tantos países, o doleiro disse que, nos anos 90, o mercado era "muito livre", porque não existia ainda o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). "Hoje, para sacar muito dinheiro, é preciso trabalhar bem", afirmou. O Coaf é um órgão do Ministério da Fazenda que acompanha movimentações financeiras com o objetivo de combater a lavagem de dinheiro.