Relator diz que cassação de Jefferson abre reconquista da credibilidade do Legislativo

15/09/2005 - 0h12

Iolando Lourenço e Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) pelo plenário da Câmara encerra um processo inicado há 98 dias no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. A representação contra Jefferson foi apresentada pelo presidente do Partido Liberal, então deputado Valdemar da Costa Neto (SP), após a denúncia do petebista do suposto pagamento de mesadas pelo PT a parlamentares do PL e PP, em troca de apoio ao governo.

No Conselho de Ética, Jefferson reafirmou suas declarações e confessou ter recebido R$ 4 milhões do PT para financiar campanhas eleitorais.

Para o relator do processo no Conselho, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), a cassação definida hoje (14) é o primeiro passo para a reconquista do prestígio e credibilidade do Parlamento. "Foi uma tomada de posição em um momento crucial na vida do Legislativo", avaliou.

O primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), presidiu a sessão na qual Jefferson foi cassado por 313 votos a favor e 156 contra. Para ele, a Casa viveu um dia tenso que não terminou em comemoração. "Não foi uma sessão alegre, não foi um dia feliz para o Parlamento. Mas é um dever do Parlamento e a Câmara nunca fugiu de cumprir o seu dever", ponderou Nonô, para quem o voto secreto beneficiou a livre expressão do juízo de valores.

Líder do PTB na Câmara, o deputado José Múcio (PE), lamentou a cassação e disse ter ficado supreso com o quórum de 489 dos 513 deputados na sessão: "O Parlamento perde com essa cassação. O deputado fez um serviço para o país. A sociedade torcia para que o mandato dele fosse popupado". E acrescentou: "Cassar deputado é muito simples. Quero saber agora quem vai dar o número de deputados que precisam ser cassados, ainda que sem provas, para resolver o problema. Devemos rever nossas práticas".

Sobre novas cassações, o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP) classificou a decisão de hoje como um sinalizador de que os principais culpados por atos de corrupção terão seus mandatos cassados pelo Parlamento. "Os cabeças do esquema perderão o mandato. Nossa obrigação é fazer a limpeza grossa. A limpeza fina é a população quem faz", disse.

Para o deputado Ivan Valente (PT-SP), a Câmara fez justiça ao cassar Roberto Jefferson e mostrou que não aceita esse tipo de comportamento. "Cada caso é um caso. Mas não há dúvida de que a decisão de hoje sinaliza outras cassações. Os homens públicos precisam responder por seus atos", defendeu.

Com a cassação, o presidente licenciado do PTB perde os direitos políticos por oito anos. Jefferson será substituído pelo ex-deputado Fernando Gonçalves, também do PTB carioca.