Dirceu não se emporcalharia por dinheiro, diz Fernando Morais

14/09/2005 - 18h04

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O jornalista e escritor Fernando Morais afirmou hoje ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara que não acredita nas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB/RJ) contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP). "Tenho uma dificuldade muito grande em acreditar que alguém que dedicou sua vida inteira a uma idéia iria emporcalhar sua história por causa de dinheiro", afirmou.

"Quem conhece razoavelmente a vida do José Dirceu, como eu conheço, não pode crer que ele tivesse se responsabilizado por um esquema ilegal e criminoso de cooptação de parlamentares", reiterou o jornalista. Fernando Morais depôs como testemunha de defesa de José Dirceu, acusado pelo PTB de quebra de decoro parlamentar.

O escritor contou que conheceu Dirceu nos anos 60, ainda quando o ex-ministro era líder estudantil. Lembrou que, nos anos 80, estiveram de lados opostos – Morais era secretário estadual de Cultura do governo Orestes Quércia (PMDB) e José Dirceu fazia oposição "dura e sistemática" a Quércia como líder do PT na Assembléia Legislativa paulista.

Segundo Morais, os dois conviveram mais intensamente apenas em 2002, quando o escritor desistiu da candidatura a governador de São Paulo pelo PMDB e, a convite de Dirceu, participou das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente e de José Genoino a governador.

Morais assegurou que, depois disso, teve encontros esporádicos com José Dirceu e que apenas conheceu mais "detalhes" da vida do ex-ministro recentemente, quando pesquisava para um livro sobre o Movimento de Libertação Popular (Molipo). Dirceu é um dos três sobreviventes do movimento.

"Passei uma semana com ele em Havana, nos feriados de Carnaval. Pude conhecer detalhes da vida dele que não conhecia, o que fez com que eu consolidasse minha convicção de que se trata de um homem de caráter. Com base nisso, aceitei vir aqui", disse aos integrantes do Conselho de Ética.

O escritor também enfatizou que participou em duas ocasiões de negociações partidárias entre PMDB e PT - em 1990, no segundo turno das eleições em SP, e em 2002, quando defendia candidatura própria do PMDB e intermediou o apoio do PMDB paulista ao candidato do PT. "Em nenhum momento me foi oferecido dinheiro, material de campanha ou qualquer apoio financeiro", declarou. "Em 2002 discutimos muito, era uma situação delicada para os dois lados. Apesar disso,a articulação deu certo e não custou um tostão de mel coado, nada, nem um boné", assegurou.

Fernando Morais disse que não podia contribuir com informações sobre as denúncias de compra de votos ou sobre a atuação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, pois não tem qualquer ligação com o PT. "Não tenho absolutamente nenhuma familiaridade com a vida do PT, não sei o que se passa lá dentro. Minha única relação com o PT é ter votado nele em algumas ocasiões", afirmou. E concluiu: "Acredito que minha presença aqui possa contribuir, ainda que modestamente, para a formação de um juízo de valor a respeito do caráter de José Dirceu".

Às 13h desta quinta feira, o Conselho de Ética ouvirá o ex-presidente nacional do PT José Genoíno.