Deputada do Rio diz que Carlos Rodrigues coordenava corrupção na Loterj junto com Waldomiro Diniz

13/09/2005 - 16h57

Ivan Richard
Da Agência Brasil

Brasília - A deputada estadual Cidinha Campos (PDT), do Rio de Janeiro, disse hoje (13), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que Waldomiro Diniz, quando presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), arrecadava dinheiro das casas de jogos e instalou um esquema de corrupção na empresa. "Foi o caos. Ele implantou o sistema de corrupção geral e irrestrito. Abriu 13 casas de bingo imediatamente após tomar posse", disse.

De acordo com a deputada estadual, o esquema de corrupção era também comandado pelo então deputado estadual pelo PL, Carlos Rodrigues (então Bispo Rodrigues). Cidinha explicou que a presidência da Loterj deveria ser ocupada por alguém da Igreja Universal, nomeado por Rodrigues. Como se tratava de um cargo ligado aos jogos, vetados pela igreja, isso não seria possível. Por isso, segundo ela, o governador do Rio à época, Anthony Garotinho, indicou a Rodrigues o nome de Waldomiro Diniz.

Rodrigues renunciou ontem ao mandato de deputado federal. Ele é um dos 18 parlamentares cujos nomes foram enviados ao Conselho de Ética para processo por quebra de decoro. A renúncia faz com que ele fique livre do processo. Waldomiro Diniz era assessor da Casa Civil da Presidência da República em 2003 e foi demitido após divulgação de fita em que aparecia negociando propina quando ainda era presidente da Loterj, em 2002.

Segundo a deputada, os bingos pagavam R$ 1 milhão por mês para ficar livres de fiscalização. "Esse esquema funcionou o tempo todo durante a gestão Waldomiro Diniz". Ela disse ainda que Jorge Dias, hoje funcionário da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, lhe contou que recebia dinheiro e repassava ao grupo comandado por Diniz e Rodrigues.

"Ele (Jorge Dias) conta que foi receber esse dinheiro junto com o senhor José Renato Granado Ferreira num posto de gasolina pelo menos uma vez", disse a deputada. Cidinha Campos afirmou também que o fiscal da Loterj José Carlos Simone tem cópia de quatro cheques que ele teria recebido e repassado ao Bispo Rodrigues, num total de R$ 150 mil. "Os cheques foram pagos a ele em nome de laranjas que eram mulher dele, o filho e o primo, para depois serem desviados a Rodrigues e Waldomiro".

Cidinha sugeriu ao presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-RN), que Jorge Dias fosse ouvido, pois ele teria acusações "mais graves": "Ele disse textualmente pra mim que não tem a menor dúvida de que foi o Bispo Rodrigues que mandou matar o deputado Valdeci Paiva de Jesus".

Ao final do depoimento, o senador Efraim Morais disse que as declarações da deputada foram importantes. "Foram declarações objetivas, precisas e trazem informações que terão desdobramento dentro da CPI. Vamos fazer uma avaliação a fundo do depoimento dela para, a partir daí, novas convocações serem feitas" concluiu.

Neste momento, a comissão ouve o depoimento do advogado Denivaldo Henrique de Almeida Araújo. Segundo a assessoria da CPI, ele é amigo de Enrico Gianelli, ex-advogado da Gtech. Ele participou das audiências públicas realizadas pelo Grupo de Trabalho criado pela Casa Civil para estudar o caso dos bingos na condição de advogado da empresa VWG Vegas Way Games e hospedou-se constantemente em Brasília na época da renovação do contrato entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech (responsável pelos equipamentos e o processamento de dados relativos às casas lotéricas vinculadas à Caixa em todo o país), mantendo contato constante com o Gianelli.