André Deak
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A taxa básica de juros do Brasil, de 19,75% ao ano – uma das maiores do mundo –, seria um dos mecanismos que perpetuam a desigualdade social no país. Essa é a opinião do economista e coordenador do Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) no Centro Internacional de Pobreza da ONU (Organização das Nações Unidas), Marcelo Medeiros.
"Quando o governo aumenta os juros, ele ajuda quem tem dinheiro no banco", diz. Medeiros defende que uma das maneiras de se iniciar a redistribuição de renda seria aplicar taxar específicas aos ricos. "É muito mais sensato taxar operações não-produtivas do que setores que estão acelerando a economia", afirma.
Medeiros desenvolveu estudos sobre os ricos, buscando facilitar futuros trabalhos que foquem a desigualdade. De acordo com seu último levantamento, de 1998, 1% da população total em 1998 (162 milhões) era dono de metade de todo o patrimônio declarado à Receita Federal.
De acordo com a análise do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Cambridge, Flávio Comim, "a máquina estatal foi orientada no Brasil para o benefício do ricos, não dos pobres". Comentando o trabalho de Medeiros, ele acrescenta que "o ricos recebem mais benefícios do Estado, pagando relativamente menos em termos relativos". A moral da história contada por Medeiros, segundo Comim, é clara: "é preciso tornar o Estado brasileiro menos ‘pró-rico’ e mais ‘pró-pobre’".