Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus – De julho de 1999 a julho de 2004, a extração da madeira em Tapajós (Pará) foi feita pela Treviso. A madeireira venceu o processo de licitação para retirar madeira de uma área de 3.222 hectares, dentro da Flona Tapajós.
"As populações locais ficaram reativas, porque só a empresa foi beneficiada", afirmou Viviane Gonçalves, coordenadora das ações do PróManejo na Flona Tapajós. "O próprio processo de criação da Flona, em 1974, durante o governo Médici, gerou essa relação conflituosa com o Estado. O espírito, à época, era o de retirar os moradores de lá."
Arimar Rodrigues, 33 anos, nasceu e se criou na Flona Tapajós e trabalhou durante um ano na Treviso. "Foi depois que voltei de Santarém, onde passei dez anos, servi o Exército, estudei, casei. Voltei para cá porque fiquei desempregado e fui lidar com o roçado de milho e mandioca", contou.
"Quando não tinha caça e pesca, a gente passava fome", lembrou. Ainda assim, ele pediu demissão da madeireira. "Era um trabalho honesto, dentro da lei, mas eu me sentia ferido de ver a madeira caindo, algo que a gente preservou tanto. Quem se criou na floresta tem amor a ela. Agora, com os moradores fazendo o manejo, a coisa será diferente."
Atualmente, Arimar Rodrigues é coordenador da Associação Intercomunitária dos Minis e Pequenos Produtores Rurais do Médio Rio Tapajós (Asmiprut) e da Cooperativa Flona Tapajós Verde. Foi ele quem criou o projeto de couro ecológico, no qual trabalham 18 famílias, com renda mensal que varia entre R$ 100 e R$ 500 reais – de acordo com o que se produz.
"Em junho, a gente recebeu a visita do banco alemão e eles perguntaram o que a gente precisava, caso o projeto fosse renovado. Eu agradeci muito toda a ajuda que já nos deram, mas expliquei que nosso pensamento é o de caminhar sozinho", afirmou Rodrigues. "Sugeri a eles que apoiassem outras iniciativas, porque a floresta toda está cheia de comunidades com boas idéias, precisando de incentivo."
Viviane Gonçalves defendeu que, para reproduzir as iniciativas da floresta Tapajós em outras Flonas da Amazônia, é preciso que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disponha de servidores capacitados, com "traquejo para negociação", e, claro, de recursos.