Primeira máquina de escrever em braile 100% nacional é apresentada em São Paulo

30/08/2005 - 19h44

Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - O protótipo da primeira máquina de escrever em braile inteiramente produzida no Brasil foi apresentado hoje em São Paulo. A máquina foi fabricada pela Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, mais conhecida como Fundação Laramara, uma instituição que trabalha para a inclusão social das pessoas cegas.

De acordo com o presidente da entidade, Victor Siaulys, o aparelho tem apenas seis teclas, mas é capaz de reproduzir todas as letras do alfabeto, símbolos matemáticos, químicos e musicais, perfurando o papel. Os cegos lêem os sinais em alto relevo com os dedos. "A máquina braile é para o cego o que a caneta representa para uma pessoa sem deficiência visual", afirma Siaulys.

Atualmente, já existem programas de computador que transformam os textos da tela ou impressos em voz e livros falados. A importância da máquina braile, segundo a fundação, é permitir que os cegos estudem e façam anotações em sala de aula, o que não é possível com o outro equipamento para a escrita ou leitura por pessoas cegas, o reglet, no qual é preciso fazer as perfurações manualmente.

A produção de máquinas braile nacionais tem apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O objetivo é tornar o país auto-suficiente e baratear o preço, que passará de R$ 2.500 para cerca de R$ 1.500. A meta é levar a máquina a todos os cegos do Brasil. A Fundação Laramara já produziu e vendeu cerca de 2.500 máquinas em braile, mas com peças importadas.

Segundo o gestor de tecnologia da fundação, Júlio Cézar Pires, o Senai está fornecendo as ferramentas para fabricação das peças não-padronizadas no mercado. "De dois anos para cá, num projeto em parceria com o Senai, nós iniciamos a nacionalização desta máquina. A finalização dessa nacionalização está prevista para outubro. Então, até o final de setembro, nós receberemos todas as peças já produzidas no Brasil, e a idéia é iniciar a montagem dessa máquina para que, em fevereiro, nós já tenhamos uma produção entre 40 e 50 peças por mês de máquinas Braile produzidas totalmente com peças nacionais".

A Fundação Laramara construiu uma fábrica própria e conta com a ajuda das indústrias. Estas doam as matérias-primas, peças prontas ou recursos. Cada máquina reúne 700 peças, das quais 350 já são fabricadas em escala, e as demais serão produzidas com as novas ferramentas. A busca de recursos para o custeio é feita de múltiplas formas, incluindo doações, licitações e a venda de cartelas de selos.

Pelas estimativas da fundação, feitas a partir de dados de outros países e da Organização Mundial de Saúde, o Brasil deve ter entre 135 mil e 225 mil pessoas consideradas cegas.