Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A Expedição Peixe-Boi Amazônico chegou hoje (30) a Urucurituba (AM), próximo à fronteira com o Pará, após 12 horas de viagem desde Manaus. O destino final é Santarém, no Pará, de onde a equipe do Centro de Mamíferos Aquáticos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (CMA/Ibama) e do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) saiu no dia 17 de agosto. "No trecho de ida, Santarém-Manaus, levamos 12 dias e paramos em 39 comunidades, onde realizamos 80 entrevistas. No retorno vamos percorrer a outra margem do rio", explicou Carla Aguilar, bióloga do CNS, em entrevista por telefone à Agência Brasil.
No barco Puxirum viajam oito pessoas – a metade formada de biólogos e estagiários que compõem a equipe técnica responsável pela coleta de dados. "Estamos levantando dados empíricos dos ribeirinhos sobre os locais de ocorrência do peixe-boi e sobre o uso que os seres humanos fazem dele. Em geral, esse conhecimento tradicional coincide com o saber científico, um complementa o outro. Realizamos palestras nas escolas, com o objetivo de conscientizar as populações locais para que não cacem o mamífero, que está em risco de extinção", contou Carla. O peixe-boi amazônico (Trichechus inungis) é a única espécie de peixe-boi fluvial do mundo e está presente em toda a Bacia Amazônica.
Esta é a oitava viagem realizada pela Expedição Peixe Boi Amazônico, projeto iniciado em 2000 pelo CMA/Ibama e apoiado desde 2001 pelo Conselho Nacional dos Seringueiros. Os pesquisadores já visitaram cerca de 600 comunidades e realizaram aproximadamente 18 mil entrevistas ao longo dos rios Solimões, Negro, Purus, Madeira, Tapajós, Arapiuns e Amazonas, além de lagos e igarapés tributários. "A presença do Conselho Nacional dos Seringueiros ajuda a vencer a resistência que as populações ribeirinhas têm em relação ao Ibama, geralmente visto apenas como órgão repressor", afirmou Carla.
"É difícil medir os resultados de nossa ação: a gente conversa com o pescador, mas não pode afirmar que ele deixará de caçar o peixe-boi. Por outro lado, desde 2001, oito filhotes já foram encaminhados ao nosso centro de reabilitação, em Santarém. Seis deles serão devolvidos à natureza, mas dois morreram. Na ida a Manaus, resgatamos um filhote que estava no cativeiro: ele estava fraco e não agüentou a viagem", declarou a bióloga. Ela informou ainda que o único predador natural do peixe-boi é o homem. A gestação desse mamífero aquático demora 13 meses e dá origem a apenas um filhote por vez. O intervalo entre as gestações é de três a quatro anos.
A próxima viagem da Expedição Peixe Boi Amazônico terá início no final de setembro. Ela sairá de Santarém e percorrerá todo o rio Trombetas.