Diretor do Itamaraty conta à CPI da Emigração resultados da viagem da missão brasileira a Londres

30/08/2005 - 14h17

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A audidência pública da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a emigração de brasileiros para o exterior está ouvindo neste momento o diretor do Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Manoel Gomes Pereira. O embaixador está relatando os resultados da viagem da delegação brasileira a Londres, Inglaterra, na semana passada, onde foram acompanhadas as investigações sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes.

O eletricista mineiro, Jean Charles, de 27 anos, foi assassinado pela polícia britânica no dia 22 de julho deste ano em uma estação de trem, na capital inglesa. Os policiais teriam confundido o brasileiro com um terrorista que supostamente participou dos atentados no metrô de Londres no dia 21.

Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador Pereira contou que a delegação brasileira viajou com um duplo objetivo. "Primeiro, acompanhar o que a justiça inglesa tinha feito até o agora em termos de andamento do processo", disse ele, explicando que "o governo, o povo brasileiro e a família do jovem merecem algumas respostas". O segundo propósito da ida à Inglaterra, completou o embaixador Pereira, "foi conhecer o sistema jurídico inglês, que é completamente diferente do nosso". Na opinião do embaixador, as investigações estão no seu início, mas "nós já fomos para marcar posição".

Com relação ao fato de que a fita contendo as imagens do brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô de Londres no dia em que foi assassinado não está completa, o diretor afirmou que a delegação obteve uma "informação sintomática" sobre isso. "O presidente da Comissão Independente de Apuração de Queixas contra a Polícia, Nick Hardwick, que investiga o caso, disse que não seria surpresa se alguma câmera do metrô londrino tivesse desativada".

O embaixador Manoel Gomes Pereira descartou que haja alguma barreira por parte do governo inglês para impedir que as investigações prossigam e se chegue aos responsáveis. "Não senti nenhuma barreira. Nada além daquela cautela costumeira em qualquer questão jurídica", observou. Pereira disse ter notado que mesmo com as investigações em curso, "eles se protegem e muita coisa a gente não pode saber. O que deverá acontecer somente ao longo do processo".

Para o embaixador Pereira, o próximo passo do governo brasileiro será aguardar a entrega do relatório da Comissão de Investigação encarregada do caso. Esse relatório será entregue em dezembro e, no dia 23 de fevereiro de2006, vai acontecer uma audiência com a presença da delegação do Itamaraty", afirmou o embaixador. Ele disse acreditar que o assassinato do brasileiro foi "um erro muito sério e fazer a coisa como foi feita, com a perseguição e a confusão com um terrorista, não se pode dizer que foi muito profissional".

Indagado se a tomada de posição do governo brasileiro frente ao governo inglês demonstra uma maturidade da diplomacia brasileira, o embaixador Pereira disse que mais do que isso, fica evidente a preocupação com cada brasileiro que vive fora do país. "Nós hoje temos um amadurecimento muito grande no país, temos muita consciência e essa consciência se aguçou muito com a presidência Lula de que as comunidades nossas no exterior têm que ser apoiadas e protegidas".

De acordo com o relator da CPMI da Emigração Ilegal, deputado João Magno (PT/MG), um requerimento já foi votado pela mesa autorizando a viagem de membros da comissão para ir à Inglaterra para "acompanhar de perto" o trabalho da justiça inglesa, bem como do Parlamento inglês. A data da viagem ainda não foi confirmada.