Entrevista 3: "Telesur é uma emissora multinacional pública", explica Beto Almeida

24/07/2005 - 8h51

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Neste terceiro trecho da entrevista exclusiva que concedeu diretamente de Caracas à Agência Brasil, o diretor multinacional da Telesur, o jornalista Beto Almeida, explica como será o financiamento da emissora, que não terá anúncios publicitários em sua grade de programação. Leia abaixo:

  • Leia o primeiro trecho da entrevista
  • Leia o segundo trecho da entrevista

    ABr: O senhor disse que a Telesur não tem anunciantes. Como ela irá se manter?
    Beto Almeida: Ela será mantida pelos quatro países que patrocinam, que dão sustentação a Telesur. Esse é uma emissora multinacional pública. Ou seja, dos quatro países – Venezuela, Argentina, Uruguai e Cuba. Ela não tem anúncios e é sustentada com dinheiros dos povos. Recursos do orçamento que é criado pelo contribuinte dos quatro países. Esses países que tem seus governos sustentados pelos recursos dos contribuintes que pagam impostos e que dão sustentação financeira para a Telesur.

    ABr: Quanto já foi investido até o momento para colocar a Telesur no ar?
    Beto Almeida: Aproximadamente US$ 12,5 milhões; US$ 10 milhões de investimentos iniciais e mais US$ 2,5 milhões de orçamento que estão sendo aplicados na compra de produção audiovisual independente. Os produtores independentes devem se estimular porque por meio de co-produção nós iremos estimular a compra e a produção de vídeos que sejam produzidos na América Latina e acabar com esse bloqueio que é o domínio total do audiovisual norte-americano sobre esses países.

    ABr: E quanto ao jornalismo da nova emissora?
    Beto Almeida: O jornalismo terá um peso forte porque nós sabemos que isso é determinante. Se nós quisermos ser uma alternativa a CNN, por exemplo, quem não gostar da CNN pode ligar na Telesur. Atualmente, não há alternativas. Tem que se ter um jornalismo que será alimentado por meio das oito sucursais que nós temos no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, na Colômbia, no México, nos Estados Unidos, em Cuba e na Venezuela. Nós temos também o chamado que fizemos aos produtores independentes, que estão mandando muitos vídeos. Esses vídeos mostram fatos muito interessantes como os desaparecidos da Mercedes Benz na Argentina na época da ditadura, produzido por cineastas alemães e argentinos.

    ABr: Na sua avaliação, quais os principais problemas que impedem uma transmissão honesta das informações?
    Beto Almeida: O problema é o interesse econômico sobre a informação. A informação é um bem publico. Só uma empresa pública e a comunicação nas mãos do setor público é que pode dar mais pluralidade, mais diversidade e construir melhor essa meta. Desde que haja uma gestão democrática. Isso é uma condição. Se não houver uma gestão democrática isso pode não ser uma realidade. Veja o caso brasileiro, por exemplo. Não há queixas na campanha contra a baixaria na mídia, não há nenhuma queixa contra a TV pública do Brasil. As queixas são todas contra a TV privada e comercial. Porque a TV pública bem ou mal e mesmo com a falta de recursos e sucateada, tem uma programação muito mais descente, objetiva e muito mais ligada a Constituição. A TV comercial faz tudo ao contrário. Quem é que dificulta a livre informação? Ao meu ver são os grandes grupos econômicos.