Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Democratizar a informação e criar um canal que reflita a diversidade e realidade das Américas. Esses são principais objetivos da Telesur, canal via satélite que, a partir deste domingo (24), passa a funcionar experimentalmente 24 horas por dia.
De acordo com o jornalista brasileiro Beto Almeida, diretor multinacional da Telesur, o canal resgatará e revelará histórias e tradições da América Latina. A emissora será transmitida em espanhol e em português e contará com o apoio de oito correspondentes permanentes em Brasília (Brasil), Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Cidade do México (México), Havana (Cuba), Montevidéu (Uruguai), La Paz (Bolívia) e Washington (Estados Unidos). Além de uma rede de colaboradores em todos o continente.
Leia o primeiro trecho da entrevista exclusiva que ele concedeu à Agência Brasil, diretamente de Caracas (Venezuela).
ABr: Quais são suas expectativas em relação ao lançamento da Telesur, já que esse canal tem uma visão alternativa à grande mídia?
Beto Almeida: A Telesur é uma alternativa aos milhões de latino-americanos que queriam ver uma informação diferente, que não seja submetida às televisões comerciais que tem seus critérios determinados pelos interesses dos seus grandes anunciantes. Nós vamos fazer uma televisão em favor da integração dos povos latino-americanos. Vamos fazer uma TV em favor da cultura, sem baixaria, sem culto à violência, resgatando a memória e a história dos povos latino-americanos e conseguir, através disso, provar que é possível fazer da televisão uma ferramenta inteligente elevando a educação, a cultura, divulgando todos os vídeos do cinema americano que hoje não encontram espaço de exibição e que vão encontrar na Telesur uma grande janela de exibição: documentários da Argentina, da Colômbia, do Brasil, do México que estão engavetados que não têm onde ser exibidos.
ABr: Como isso ocorrerá
Beto Almeida: O cinema latino-americano, em função do controle de 85% do audiovisual norte-americano sobre o mundo, não tem onde ser exibido, não encontra espaço de exibição. Na Telesur haverá esse espaço. Nossa expectativa é muito boa porque não há uma televisão dessa natureza, que trabalhe em favor da integração. Isso está na Constituição dos vários países latino-americanos. Por exemplo, na Constituição brasileira está a integração latino-americana como uma das metas da nação brasileira. Isso precisa de uma integração também no plano da cultura e da informação. É isso que a Telesur vem tentar defender e cumprir. A Telesur surge para pagar a dívida informativa que se construiu e avolumou contra os povos dessa região.
ABr: É um olhar mais profundo em direção a América Latina?
Beto Almeida: Nós queremos olhar a América Latina com nossos próprios olhos, porque hoje existe uma predominância do olhar do norte. Mas eles nos olham com os interesses deles. Eles não nos olham tentando resgatar a nossa auto-estima, pelo contrário. Nós queremos que esse olhar seja um olhar de identidade e respeito à nossa história. À trajetória de luta dos povos pela libertação econômica, pela emancipação cultural. É um olhar sobre nós mesmos, inclusive, projetando esse olhar para o mundo, para que o mundo tenha uma outra possibilidade de nos enxergar. Para ver que a América Latina tem potencialidades; tem direito de escolher seu próprio caminho, tem direito de organizar sua própria sociedade. Precisa da união dos vários povos para superar seus problemas de miséria, dependência tecnológica e cultural. A Telesur vem para colocar em tela de forma aberta e gratuita. Nós somos uma TV pública que não tem nada a ver com os interesses de mercado ou de lucro.
ABr: A Telesur será um canal bilíngüe. Como será trabalhada essa questão da língua e da cultura?
Beto Almeida: O general Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar é um herói na Venezuela e é desconhecido no Brasil. Ele voltou para o país depois de ter participado da Revolução Praieira. Ele voltou ao Brasil no momento que Bolívar havia morrido. Ele escreveu muito, defendeu idéias muito importantes quando voltou ao Brasil. Mas quem conhece a história de Abreu e Lima no Brasil? Nós vamos contar essa história. Nós vamos contar para os bolivianos quem foi Tiradentes. Vamos contar para os colombianos que foi Zumbi dos Palmares. Isso já mostra um outro olhar, uma outra narrativa e uma outra linguagem. Mas isso precisa começar pelo respeito aos idiomas. Por isso nós vamos fazer uma programação bilíngüe. Espanhol e português para começar e depois podemos optar pelo inglês. Mas no começo, espanhol e português, fazendo dublagem ou legendagem, quando for o caso de vídeos e documentários.