Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A participação do Brasil na Reunião de Cúpula do G8, grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, foi de um espectador privilegiado, segundo o professor do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Reginaldo Nasser. A reunião entre os líderes das nações mais ricas do mundo ocorreu na última semana em Gleneagles, na Escócia, e foi prejudicada pelos atentados terroristas em Londres.
O professor destacou, em entrevista à Rádio Nacional de Brasília, que o fato do Brasil ter sido um dos convidados para a reunião já é muito importante. "O Brasil é um país que, nos últimos anos, tem voltado a aspirar o seu lugar no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e tem se articulado com outros países, no caso a África do Sul e a Índia, além de ter uma presença importante também na Organização Mundial do Comércio (OMC)", acrescentou.
O G7, que depois transformou-se em G8, nasceu após a crise do petróleo, em 1973, decorrente da guerra árabe-israelense. Nasser explicou que o grupo tem o propósito de pensar as grandes questões internacionais. Este ano, estavam na pauta dos debates o meio ambiente, Protocolo de Quioto e a fome no mundo, especificamente o problema da África.
Com relação aos atentados ocorridos na capital inglesa, o professor lembrou que, diferentemente das demais edições do evento, não estava na agenda de discussões a questão do terrorismo internacional. "Os atentados, obviamente, têm esse objetivo simbólico. Nada melhor do que chamar a atenção do mundo, e escolheram um momento muito propício para isso", observou. Segundo ele, o que se quis foi mostrar ao mundo que o terrorismo ainda está bem organizado, bem estruturado e foi capaz de atingir uma cidade que era considerada, até então, uma das mais seguras do mundo.
Nasser acredita que os atentados não vão mudar o eixo de ações do G8, mas ajudarão a retomar os temas ligados ao terrorismo internacional. "No momento em que você vai discutir a pobreza no mundo, no momento em que nós já estávamos esquecendo a questão do terrorismo, ele é lembrado", afirmou.
Na visão do especialista, os terroristas usaram o temor da população inglesa para pressionar o governo do primeiro-ministro Tony Blair a retirar as tropas britânicas do Iraque. "Resta ver qual vai ser o destino de Tony Blair porque, passado este momento de comoção, a questão da presença de tropas britânicas no Iraque voltará a ser discutida." Nasser lembrou que, mesmo antes dos atentados, já havia forte corrente oposicionista em relação ao assunto.