Reestruturação integral da Varig depende do governo, analisa pesquisadora

05/07/2005 - 12h52

Rio, 5/7/2005 (Agência Brasil - ABr) - O processo de recuperação judicial em curso da Varig pode ser um caminho para a sobrevivência da companhia, mas a saúde integral passa pelo governo central, admitiu a pesquisadora Heloísa Pires, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).

"O governo precisa decidir se essa reestruturação será feita. Como principal credor da Varig, ele precisa resolver se vai permitir isso", salientou. Heloísa Pires observou, por outro lado, que quando se fala em aviação civil isso mexe com dois itens muito importantes – soberania e segurança nacionais – e que "vêm sendo atendidos durante anos pela Varig". E analisou: "Se você olhar para o setor como uma fotografia, vai ver que nenhuma empresa nacional teria hoje a capacidade de atender isso. Então, se matar a Varig, vai matar a intregação nacional".

Segundo a pesquisadora, "não seria bom deixar empresas que não têm bandeira nacional dominarem esse mercado, porque mexe com a soberania". A história é bem complexa, avaliou, porque a Varig não é uma empresa que participa de um mercado, como um supermercado ou loja de móveis. "A aviação envolve outras coisas muito importantes. Então, a história da possível falência tem que ser analisada com mais cuidado". Alertou, entretanto, que "não se trata de uma questão de proteção da empresa, mas de proteção nacional".

Na opinião de Heloísa Pires, o futuro da Varig passa pelo equacionamento da reestruturação, por meio do governo, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ela indicou também a necessidade de se pedir da empresa agilidade e cumprimento de metas. "Mas acho que o governo não deve deixar de cuidar desse bem público, que é a integração nacional e a soberania nacional".

Estudo realizado pela Coppe e publicado no ano passado em revista especializada internacional mostra que, no setor da aviação civil mundial, muitas empresas apresentavam características financeiras às vezes dramáticas como a Varig. "Não é a única no mundo a ter essa perspectiva de alto endividamento. E aí a gente percebe que tem empresas de capital estatal e também de capital privado em mercados que são livres e mercados tutelados".

Heloísa Pires citou o caso da United Airlines, empresa com grande endividamento, como a Varig, mas que continua operando, com o governo norte-americano atendendo à situação de reestruturação, dentro de um mercado livre. Outra companhia que não apresenta desempenho financeiro favorável, a Air France, cujo capital é quase todo estatal, é mantida em funcionamento pelo governo da França. Há ainda os exemplos de Alitalia, da Itália, e da Thai Airlines, da Tailândia.

A pesquisadora da Coppe reiterou que essas empresas pertencem a países que "têm uma visibilidade mundial muito grande e que têm outro tipo de configuração, por decisão do país pensando sobre soberania, divisão do espaço por questão de segurança nacional".

Amanhã (6), em parceria do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, a Coppe promove o seminário Uma Saída para a Varig, que reunirá especialistas, representantes do setor aéreo e da própria Varig para debater o futuro da companhia.