Líder do PMDB nega ter recebido recursos de publicitário

05/07/2005 - 19h13

Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR), divulgou nota oficial hoje em que nega ter recebido do empresário Marcos Valério "qualquer numerário ou recursos financeiros" e diz que conhece o diretor da agência de publicidade SMP&B, mas que sua relação com o empresário se limita "ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao governo federal".

O líder do PMDB diz que se reuniu com Marcos Valério e com integrantes da direção nacional do PT algumas vezes para discutir a nomeação de membros do seu partido para cargos na administração federal. "O que discuti com dirigentes do PT e o senhor Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos, a nomeação de seus partidários para cargos na administração", afirma Borba.

Na nota, Borba admite que pode ter estado na agência do Banco Rural no Brasília Shopping, em dezembro de 2003. Segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), é nessa agência que seriam sacados os recursos para o pagamento do chamado "mensalão", propina paga a deputados em troca de apoio ao governo.

Em reportagem veiculada no último domingo pela TV Globo, Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, disse que Borba mantinha encontros regulares com ele. Valério é apontado como suposto operador do "mensalão". Segundo a reportagem, documentos do Banco Rural comprovariam que saques em dinheiro em valores superiores a R$ 100 mil foram feitos por Valério em datas semelhantes àquelas em que Borba teria estado em uma agência do banco em Brasília. Ainda segundo a reportagem, em depoimento à Polícia Federal, Valério confirmou que mantinha relações com Borba.

O líder tambem diz na nota que "um dos poucos sucessos" ao discutir cargos com o PT foi a nomeação do peemedebista João Henrique para a presidência dos Correios, por indicação do presidente do partido, Michel Temer. "Sempre exerci a liderança do PMDB com a preocupação de corresponder à confiança depositada por meus bravos e leais companheiros, apesar de parte da discordância da bancada representados por quem eu e os fatos não arriscaríamos colocar 'a ponta dos dedos no fogo'".

Para o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), as palavras de José Borba precisam de melhor explicação. "Nem o Roberto Jefferson, nos seus momentos mais agudos, jamais disse que o Marcos Valério falava em nome do governo negociando cargos. Então, eu no máximo interpretaria como erro ou de redação, ou como um grave erro de interpretação do líder José Borba", afirmou Chinaglia.

Na opinião do líder governista, o deputado Borba fez uma espécie de "ajuste de contas" com parte da bancada do PMDB na Câmara ao afirmar na nota que não bota nem a ponta dos dedos no fogo por ninguém. "A nota, ela tem idas e vindas, e cabe ao Borba explicar cada item dela de maneira adequada", disse Chinaglia.

Segundo o líder do governo, a relação de Marcos Valério com o governo federal ocorre na instância dos contratos de publicidade. Já sobre as supostas ligações do publicitário com o PT, Chinaglia disse que o partido deve explicações à sociedade. "O PT está na obrigação de vir a público explicar. Qualquer outra relação que o Marcos Valério tenha estabelecido com parlamentares que esteja fora dos padrões éticos, isso também vai ser investigado. Ou seja, eu creio que se avolumam informações, denúncias, e isso vai ter que ser passado tudo em pratos limpos", enfatizou Chinaglia.

Já o presidente do PMDB, Michel Temer, criticou a nota emitida pelo líder do partido. "A nota não foi boa, não é últil para ninguém. Mas essa é uma questão íntima do deputado José Borba, ele é que traça a sua linha de argumentação", disse. Michel Temer disse acreditar nas palavras do líder quando ele afirma que não esteve envolvido em nenhum esquema de pagamento de mesadas. "Eu acredito na palavra dele. O líder Borba e os deputados do PMDB não estão nisso, mas claro que não me exijam que eu ponha a mão no fogo por ninguém. E ele fez uma brincadeira com isso", ressaltou Temer.