Ex-agente da Abin diz que havia acertado com empresário divulgação da fita dos Correios

05/07/2005 - 15h38

Luciana Vasconcelos e Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília - O responsável pelo equipamento utilizado na gravação dos Correios, Jairo Martins, afirmou hoje à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que havia combinado com o empresário Artur Washeck, suposto mandante da gravação, a divulgação da fita. Na gravação, o ex-diretor do Departamento de Contratação e Material dos Correios Maurício Marinho recebe R$ 3 mil e fala sobre um suposto esquema de corrupção na estatal em benefício do PTB.

Segundo Jairo Martins, a divulgação foi acertada entre ele e Washeck desde o primeiro contato entre os dois, antes da gravação. "Estava com um crime na mão. Tinha que guardar para ou entregar, como combinado, à imprensa", disse. Washeck, em depoimento à CPMI, negou o desejo de divulgar o material à imprensa.

Martins disse que se formou ano passado em jornalismo, confirmou que é ex-policial militar e contou ainda que, durante nove anos, trabalhou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele afirmou que não entregou a fita à Abin.

De acordo com Martins, Washeck contou a ele que estava tendo problemas nos Correios e queria obter provas de irregularidades. Para ajudá-lo, Martins providenciou o equipamento, que, segundo ele, foi comprado em uma feira de Brasília.

Jairo Martins disse ter participado do esquema de gravação por interesse jornalístico e por patriotismo. "O que me move é o meu país", disse. "Não faço arapongagem." Jairo Martins afirmou ainda que não recebeu dinheiro para entregar a fita à revista Veja. "Não teve pagamento", disse.

O ex-policial contou ainda que apoiou outras duas gravações, feitas a pedido do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O vídeo mostrava encontros em que o deputado estadual do Rio Alessandro Calazans (sem partido), então presidente da CPI da Loterj, aparecia pedindo propina em troca da retirada do nome do empresário do relatório final da CPI. Por causa de gravação semelhante, o deputado federal André Luiz foi cassado.

O ex-policial disse ainda que não participou das gravações em que o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparece pedindo propina a Cachoeira.

Para integrantes da CPMI, o depoimento de Martins aponta divergências em relação ao de outros já ouvidos e os do inquérito policial. "Esse é mais um dos depoimentos estranhos. Há muitos fatos obscuros", afirmou o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). "Todo mundo está mentindo", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).