Greve adia nomeação de indígena como administrador da Funai em Manaus

14/06/2005 - 12h52

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - A greve dos servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) está adiando a nomeação do líder tariano Pedro Garcia a administrador regional da autarquia em Manaus. Segundo Roberto Lustosa, vice-presidente da Funai, todos os processos de nomeação e demissão estão parados. "Além disso, é preciso deixar claro que sempre que alguém é indicado a um cargo de ordenador, o nome da pessoa é enviado ao Ministério da Justiça, que o encaminha à Casa Civil da Presidência da República. O objetivo é verificar se a pessoa tem condenações ou processos que atestem contra sua idoneidade. Essa pesquisa demora cerca de 15 dias", explicou ele, acrescentando que acredita que o nome de Pedro Garcia sequer chegou a ser enviado ao ministério.

No dia 3 de junho, Izanoel dos Santos Sodré, coordenador da Amazônia Ocidental da Funai, em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, divulgou em primeira mão que um indígena iria responder pela administração da sede da Funai em Manaus.Foi por meio da imprensa que Pedro Garcia soube que havia sido escolhido para o cargo.

O movimento indígena comemorou a notícia, fruto de uma longa batalha, permeada de protestos públicos. Em janeiro, o escritório local da Funai ficou ocupado durante 27 dias. A principal reivindicação dos manifestantes era a substituição de Benedito Rangel por um administrador indígena. A sede só foi reaberta em 7 de março, com um administrador-substituto, Jorge Fernandes, que permanece no cargo.

Pedro Garcia declarou que, assim que for publicada a portaria de sua nomeação, pretende reunir diversas lideranças indígenas para levantar os principais problemas da política indigenista atual na região. Ele ressaltou que os indígenas têm uma maneira própria de fazer política, mais baseada no diálogo e na participação.

O líder tariano é um grande defensor de que os índios ocupem cargos administrativos: nas últimas eleições, foi o primeiro candidato indígena a prefeito de São Gabriel da Cachoeira, município no qual 90% dos 33 mil habitantes são indígenas, pertencentes a 17 etnias (segundo dados do Instituto Sociambiental, uma organização não-governamental que atua na região).Pedro obteve, porém, apenas 2.995 de um total de 13.297 votos (dados do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas).

"A partir daí, iniciei na FOIRN a pesquisa Participação Indígena. O objetivo é traçar o perfil das lideranças, estudar sua formação e também como está organizada institucionalmente cada associação indígena. Só assim a gente pode se fortalecer e ocupar espaços que nos permitam influenciar as políticas municipais", revelou. A Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) possui 60 associações filiadas, que representam aproximadamente 40 mil indígenas, moradores dos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, no Amazonas.