Momento atual é bom para rever relações político-partidárias no país, diz senadora

12/06/2005 - 9h16

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A crise política atual, provocada pelas denúncias de corrupção nos Correios e de pagamento de mesada a parlamentares do PL e do PP em troca de apoio político ao governo, é um bom momento para revisão das relações político-partidárias no país. A opinião é da senadora Patrícia Sabóia (PPS-CE), que foi designada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para coordenar os trabalhos da comissão especial que vai tentar acelerar a tramitação da matéria no parlamento.

Patrícia Sabóia disse que este é o pano de fundo de toda a crise vivida pelos poderes Legislativo e Executivo, que culminou com a criação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI), instalada na semana passada.

Em entrevista à Agência Brasil, a senadora ressaltou que a dimensão que a crise tomou acaba por afetar toda a classe política. "As pessoas começam a ter pavor, horror aos políticos", afirmou Patrícia. Segundo ela, "as pessoas sérias, que fazem do mandato um instrumento de luta", acabam envolvidas e confundidas pela opinião pública com parlamentares que porventura tenham "trocado seus mandatos por regalias pessoais e dinheiro".

A senadora disse que, para evitar a generalização das denúncias de envolvimento de parlamentares em esquemas de corrupção toda a classe política, é necessário mais rigor no controle dos gastos de campanha, além de um compromisso efetivo do político com as propostas de seu partido. Por isso, destacou Patrícia Sabóia, questões como a fidelidade partidária e o financiamento público de campanhas devem retornar ao debate no cenário político. Se possível, para serem implementados já em 2006.

A fidelidade partidária é o tema que mais chama a atenção da senadora na reforma política. De acordo com ela, a ausência de critérios rigorosos que obriguem o parlamentar a permanecer no partido pelo qual foi eleito abre caminho para que o mandato seja utilizado como barganha política e, muitas vezes, como troca de favores pessoais. "Não é sério que uma pessoa entre e saia de um partido para outro, às vezes em um mês ou em questão de dias", afirmou.

A proposta que Patrícia Sabóia apresentará nesta semana aos colegas da comissão especial é que temas como esses, inseridos no atual momento político, sejam debatidos em parceria com a sociedade organizada, com entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por exemplo.

Antes disso, a senadora quer conversar com o relator da matéria na Câmara, Ronaldo Caiado (PFL-GO), e outros deputados envolvidos com o tema "para sentir o clima dos políticos com relação a esta reforma". De qualquer forma, a determinação que lhe foi dada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é que a reforma política seja debatida de forma transparente e o mais perto possível do entendimento da sociedade.

"A população precisa saber que a reforma política é um instrumento forte e poderoso para acabar com a corrupção, uma forma de fortalecer os partidos e diminuir o individualismo que muita vezes se caracteriza nas eleições", afirma Patrícia. No caso específico da denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de pagamento de mesada pelo PT a deputados do PP e do PL, Patrícia disse que é fundamental os brasileiros saberem o nome desses parlamentares, se a denúncia for verdadeira, para que separem "quem presta de quem não presta".

"Infelizmente, a população acaba tendo razão ao dizer que não acredita mais na política, ao ver esses exemplos tão ruins que todos os dias estão estampados nas páginas dos jornais, nas rádios e televisões do país". Hoje o jornal Folha de S. Paulo publicou nova entrevista do deputado Roberto Jefferson na qual ele dá mais detalhes sobre como o governo e o PT teriam atuado na distribuição de cargos públicos entre os aliados.

Jefferson conta na entrevista que participou de reuniões com o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, e o presidente do PT, José Genoino, além dos secretários do partido Delúbio Soares (Finanças), Silvio Pereira (secretário-geral) e Marcelo Sereno (Comunicação), para tratar da distribuição de cargos. Segundo o deputado, os encontros ocorreram no quarto andar do Palácio do Planalto, numa sala "reservada ao Silvio Pereira", ao lado do gabinete do chefe da Casa Civil.