Em Roraima, prefeito e índios temem que homologação da reserva provoque isolamento

21/04/2005 - 17h32

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Boa Vista - O prefeito de Normandia (RR), Orlando Justino (PSB), teme que a homologação contínua das terras indígenas Raposa Serra do Sol possa isolar comunidades indígenas. A preocupação é compartilhada pelos índios tuxauas macuxi Gabriel Silveira e Anastácio da Silva, das comunidades Raposa e Patativa, respectivamente – ambas localizadas no município. "Nós já temos 200 anos de contato com os não-índios, nossa situação é muito diferente daquela vivida pelos ianomâmi. Hoje, a comida consumida na área indígena vem da cidade. Se o Lula não se reeleger e o próximo presidente não apoiar os indígenas, quem vai garantir nossa sobrevivência?", disse o prefeito, que se auto-denomina macuxi.

Gabriel informou que os 800 macuxi, que vivem na comunidade Raposa, plantam seu próprio alimento, especialmente milho e mandioca. Mas ele confirmou que a dependência em relação ao estado é grande. "Há hoje 23 professores macuxi, funcionários públicos estaduais, na Raposa. Eles temem perder o emprego", contou Gabriel. O governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), já afirmou que vai tirar da terra indígena todos os serviços prestados pelo estado.

Para o prefeito de Normandia, o outro lado negativo da homologação contínua da reserva é o fato de expulsar os 15 produtores de arroz que lá trabalham. Os arrozeiros, porém, não pagam impostos à prefeitura. "A gente está elaborando o Código Tributário Municipal e a saída dos arrozeiros de Normândia frustrou nossa expectativa de aumento de receita", argumentou Orlando. Segundo ele, a atual verba da prefeitura, de cerca de R$ 45 mil mensais, vem de repasse federal, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Ainda segundo o prefeito, Normandia tem quase sete mil habitantes, dos quais quatro mil vivem na sede do município. "Ainda não sei exatamente os marcos da reserva indígena, mas creio que 80% de Normandia ficaram dentro da Raposa Serra do Sol", disse.

Hoje (21) é o quarto dos sete dias de luto oficial decretado pelo governador de Roraima em função da homologação da terra indígena. Para a antropóloga Mônica de Freitas, da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem Estar Social, a população está sendo vítima do terrorismo ideológico. "As pessoas são contra a Raposa Serra do Sol sem nunca terem ido lá. Elas não sabem que no fundo defendem apenas meia dúzia de arrozeiros", analisou. O vereador de Normandia, Eduardo Oliveira (PDT), resumiu o clima de hoje na capital de Roraima. "Aparentemente, é mais um feriado tranqüilo. Mas há muita tensão e incerteza no ar", alertou.