Juliana Borre
Da Agência Brasil
Brasília - Representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo serão recebidos amanhã (15) no Ministério da Justiça, para discutir as ações violentas que envolveram lideranças do MAB na última semana, em Minas Gerais e em Santa Catarina.
Na terça-feira (8) e no sábado (12) passados, nas cidades de Rio Casca (MG) e Campos Novos (SC), respectivamente, pessoas ligadas ao movimento foram agredidas e algumas delas, detidas por policiais. Segundo Sônia Loschi, integrante do MAB e uma das pessoas feridas em Rio Casca, a polícia argumentou que eles provocavam desordem nas reuniões promovidas com a população.
"O argumento geral para essas ações é que as hidrelétricas são de utilidade pública e, quando sai a primeira licença de instalação, as terras das famílias passam a ser de utilidade pública também. Então, todas as terras podem ser desapropriadas à força. Em Campos Novos, as famílias nem sabiam que estavam sendo processadas e foram surpreendidas às 5 horas por policiais armados em suas casas", explicou Gilberto Cervinski, da direção nacional do MAB.
O dirigente lembrou que nos últimos 40 anos 300 mil famílias foram expulsas de suas moradias. "A cada 100 delas, cerca de 70 não receberam qualquer tipo de direito sobre a desapropriação, de acordo com a Universidade de São Paulo", explicou Cervinski, para quem as barragens têm sido "uma fábrica de sem-terras". Ele acrescentou: "Enquanto as organizações fazem a luta por reforma agrária, as barragens expulsam as famílias para aumentar o contingente de pessoas sem terra."
Na opinião do secretário-executivo do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, Gilberto de Oliveira, "o governo precisa tomar atitudes imediatas para que essas famílias não venham engrossar as favelas. Enquanto ele só abrir diálogo para tomar cafezinho e para justificar uma ação irresponsável, a nossa resposta vai ser nas ruas". E avisou: "Problema social se resolve com decisão política e não com ação policial."
A construção das barragens, de acordo com Sônia Loschi, causa também danos emocionais aos ribeirinhos. "Durante o processo de construção das barragens, muitas pessoas morrem por doenças como a depressão ou simplesmente abandonam a região. Na Barragem de Candonga (MG), por exemplo, foi feito um levantamento e cada família tem pelo menos uma pessoa tomando remédio controlado. Quem mais sente são as crianças, as mulheres e os idosos", informou.
O representante da CPT, Dom Orlando Dotti, lembrou: "Muita gente que está à beira do rio vive da pesca, da pequena produção e de outras atividades. Saindo de perto do rio, eles perdem seu referencial de trabalho. Nós procuramos caminhos concretos para que essas pessoas possam viver em paz."
O Dia Internacional de Luta contra as Barragens é comemorado hoje em 25 países.